Sportbuzz
Busca
Facebook SportbuzzTwitter SportbuzzYoutube SportbuzzInstagram SportbuzzTelegram SportbuzzSpotify SportbuzzTiktok Sportbuzz
Fórmula 1 / JÁ PENSOU?

Senna x Ferrari: a quase ida do brasileiro à escuderia

Ayrton Senna e Ferrari sempre estiveram bem próximos, mas uma série de problemas fez com que a união entre os dois nunca se concretizasse

Ayrton Senna - Getty Images
Ayrton Senna - Getty Images

Certa vez, Luca di Montezemolo, ex-presidente da Ferrari, afirmou que seu grande arrependimento da carreira era não ter contratado Ayrton Senna para correr pela equipe italiana de Fórmula 1. O que muitos não sabem é que a grande chance aconteceu quando o brasileiro se ofereceu para fazer parte da escuderia antes de seu acidente fatal de 1994.

“Ele veio até a minha casa em Bologna, antes do acidente de Imola, e me disse que queria correr a todo custo conosco e deixar a Williams. Combinamos de nos vermos depois de Imola, mas depois aconteceu o que aconteceu. Eu ficaria feliz em tê-lo. Teria sido a cereja do bolo, que foi o que aconteceu com Michael Schumacher”, comentou Montezemolo, durante entrevista para o canal “Sky Sport”.

Mas aquela estava longe de ser a única chance que os italianos tiveram de contar com o tricampeão mundial. A relação Senna e Ferrari teve inúmeros capítulos. Tudo começou pouco depois do brasileiro chegar à Fórmula 1, 10 anos antes do fatídico acidente. Veja agora como foi o namoro entre as duas partes e o motivo por trás de nunca ter dado certo.

Senna x Enzo Ferrari

John Surtees, ex-campeão pela Ferrari e que esteve toda sua vida vinculado à equipe, foi o primeiro a indicar a contratação de Ayrton Senna. O britânico ficou impressionado quando viu o jovem brasileiro performar em uma corrida de exibição da Mercedes, onde derrotou Niki Lauda e Alain Prost, com o mesmo carro. E, por conta disso, decidiu escrever para ninguém menos que Enzo Ferrari.

‘Commendatore’ acreditava que o brasileiro de 24 anos era jovem demais para correr pela equipe, não levando o conselho adiante. Enzo chegou a mudar de ideia nos anos seguintes e convidou Senna para um encontro em Maranello, em 1986, sabendo que o contrato de Ayrton com a Lotus estava no final.

Senna tinha aprendido italiano nos tempos de kart na Itália nos anos 70 e, por conta disso, teve uma relação boa com os dirigentes da scuderia. Mas, ao que parece, a conversa com o chefão não acabou bem. Tanto que na época foi divulgada uma nota na qual Ferrari dizia que Senna “certamente era um grande piloto, mas não tenho tanta certeza sobre o homem”.

Ficava claro ali que Ayrton não iria para a equipe enquanto Enzo estivesse por lá. De certa forma, isso foi bom para a carreira do brasileiro, visto que a equipe conquistou somente cinco vitórias em três temporadas entre 86 e 88.

Chegou a hora

O cenário mudou quando Enzo Ferrari morreu em 1988, proporcionando o surgimento de um personagem importante na história de amor entre equipe e piloto: Cesare Fiorio, o novo chefe ferrarista. Dirigente de postura agressiva, queria atrair para o time os melhores pilotos para se juntar a John Barnard, projetista que tinha ganhado fama com os carros vencedores da McLaren.

Então, o primeiro a ser procurado foi Senna. Depois, Prost. “Meu objetivo era substituir Berger por Senna em 1990, então o abordei em maio do ano anterior durante o GP de Mônaco. Mas Senna já tinha um contrato com a McLaren e não podia quebrá-lo por diversos motivos. Não chegamos a uma conclusão, mas combinamos de conversar novamente assim que possível. E então liguei para Prost e ofereci uma vaga para 1990”, comentou.

Aquele momento era o auge da rivalidade entre brasileiro e francês, que eram parceiros de McLaren. Prost acreditava que o fato do brasileiro ter sido indicado pela fornecedora de motores Honda lhe dava vantagens dentro do time. Então, no final de julho, o europeu assinou com a Ferrari.

Pré-contrato

Na cabeça de Cesare Fiorio, isso não encerrava as chances de ter Senna na equipe. Na verdade, o dirigente acreditava que, dentro de um time totalmente latino, seria mais fácil controlar a rivalidade entre os dois. “Mais que isso, eu sempre acreditei que uma equipe seria melhor com dois campeões do que com um segundo piloto inútil. Estava pronto para assumir o risco de ter uma rivalidade interna”, afirmou.

O cenário dentro da equipe começava a mudar, com a Ferrari sendo o primeiro a experimentar o câmbio semi-automático, controlado por uma borboleta no volante, voltando a triunfar nas corridas. Com a evolução, o interesse de Senna em se juntar aos italianos estava cada vez maior. Fiorio revelou que duas conversas, sendo uma logo após o Grande Prêmio do Brasil em março e outra em julho de 1990, antes do Grande Prêmio da França, selaram o acordo que colocaria o brasileiro junto de Prost novamente.

Com um pré-contrato para 1991, com opção de seguir no time no ano seguinte, o destino não quis que isso acontecesse. Com as conversas chegando nos ouvidos de Piero Fusaro, presidente da Ferrari na época, começou uma batalha interna por poder. O mandatário revelou os planos do dirigente para Prost e encerrou as negociações com Senna, obrigando Fiorio a sair. Sua demissão foi confirmada no ano seguinte, temporada que acabou sendo péssima para a scuderia, culminando na demissão do piloto francês.

Ayrton Senna - Créditos: Getty Images
Ayrton Senna - Créditos: Getty Images

Não demorou para o próprio Piero Fusaro acabar sendo demitido pela FIAT, que optou trazer de volta o ex-assistente de Enzo Ferrari, Luca di Montezemolo, para a presidência da equipe italiana de Fórmula 1.

Não para por aí…

Senna conquistou os campeonatos de 1990 e 1991, mas tinha visto o crescimento da Williams e seu carro coberto de ajudas eletrônicas onde Nigel Mansell (1992) e Prost (1993) foram campeões com facilidade. A primeira opção do brasileira seria uma vaga na equipe inglesa, mas o francês tinha assinado um contrato que vetava a contratação de Ayrton. Ciente disso e de que a Honda deixaria a McLaren no final de 92, o piloto do Brasil chegou a se reunir com Lauda, que era consultor da Ferrari, mas não chegaram a um acordo.

No final de 93, ainda na McLaren e acreditando que Prost continuaria na Williams para o ano que vem, Senna se encontrou com Jean Todt, que não conseguiu contratar o brasileiro por já ter dois pilotos na equipe italiana. No final das contas, a tão sonhada vaga na Williams se abriu com a aposentadoria do grande rival francês.

Entretanto, as ajuda eletrônicas foram banidas para 1994 e deixou Senna muito descontente na equipe, se lançando novamente em uma aproximação com a Ferrari e se reunindo com Montezemolo dias antes de sua morte. “Conversamos longamente e ele deixou claro que queria encerrar sua carreira na Ferrari, depois de ter estado muito próximo de assinar com o time anos antes. Concordamos em nos encontrar outra vez em breve, já que ele checaria as obrigações de seu contrato”, afirmou o ex-presidente.

De acordo com Montezemolo, a ideia de Senna era quebrar seu contrato, que iria até o final de 1995. Há quem diga que, entretanto, o encontro com o ex-presidente tenha resultado somente em uma assinatura de pré-contrato para 1996. No final das contas, Michael Schumacher foi o piloto contratado pela Ferrari naquele ano, grande responsável por tirar a equipe da fila.