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Futebol / ESPECIAL

Sportswashing x Orientalismo: um debate delicado no futebol árabe

Com a chegada de Neymar, CR7 e outras grandes estrelas no futebol árabe, o sportswashing passa a ser ainda mais discutido, assim como o orientalismo; entenda os fenômenos no esporte

Neymar em sua apresentação no Al Hilal - Getty Images
Neymar em sua apresentação no Al Hilal - Getty Images

O “sportswashing” voltou a ser debatido após as contratações de Neymar, CR7, Benzema, entre outros grandes nomes, por clubes da Arábia Saudita. A prática, que pode ser feita por indivíduos, grupos, corporações e até governos, consiste no uso do esporte para fazer uma “limpeza” de imagem (como o próprio termo em inglês sugere).

Assim, países do Oriente Médio têm a chance de serem reapresentados ao mundo (especialmente no que é designado como parte do Ocidente) como receptivos, progressistas e capazes de serem integrados a uma posição de destaque no cenário do futebol e de demais modalidades esportivas. No entanto, a maioria dos países envolvidos no fenômeno deixam a desejar em questões que envolvem, principalmente, os Direitos Humanos.

Assim, além de ser uma estratégia voltada para a limpeza da imagem pública, o “sportswashing” opera como uma política de Estado, a qual desvia o foco de pautas relevantes no âmbito social. Vale pontuar que esse fenômeno não é exclusivo do Oriente Médio, mas a região se destaca quando o termo é mencionado por razões particulares.

O governo da Arábia Saudita, por exemplo, é responsável por parte do salário milionário dos atletas de sua liga. Segundo a revista “Forbes”, Cristiano Ronaldo, que defende o Al Nassr, é o atleta mais bem pago do mundo, o qual arrecadou US$ 136 milhões (R$ 671,9 milhões) ao longo dos 12 meses anteriores a maio, quando a relação foi divulgada. Dessa forma, o poder aquisitivo astronômico é a ferramenta principal na execução do “sportswashing”.

Neymar foi apresentado pelo Al-Hilal
Neymar foi apresentado pelo Al-Hilal (Crédito: GettyImages)

Orientalismo

Contudo, na cultura ocidental, é comum enxergar países do Oriente Médio (principalmente os árabes) sob um olhar de vilania e crueldade (como se a violação de Direitos Humanos fosse exclusiva desses locais). Esse fenômeno, por sua vez, é denominado “orientalismo”, que gera uma visão fantasiosa e exagerada da cultura dos países que são enquadrados no leste global.

Para outras perspectivas, os povos árabes e suas nações representam um espaço de acolhimento que não foi oferecido em solo europeu. Embora isso possa ser uma surpresa para alguns, o Velho Continente não é 100% pacífico e civilizado e pode, sim, ser desumano com algumas classes e etnias, principalmente minorias religiosas.

Karim Benzema rejeitou a proposta de renovação com o gigante Real Madrid para fazer parte do projeto do Al Ittihad. Por dinheiro? Diz ele que não. “Eu já tinha estado na Arábia Saudita e sinto-me bem. Sobretudo, porque é um país muçulmano. Para mim, é onde quero estar, porque é importante para mim estar num país muçulmano”, declarou o craque em sua apresentação ao clube.

A justificativa de Benzema faz sentido ao ser associada com uma declaração marcante do próprio em relação ao preconceito que sofreu na Europa, justamente pela sua ascendência: “Quando eu faço gols, sou francês. Quando não faço, ou as coisas vão mal, eu sou árabe”. Os pais do centroavante nasceram na Argélia, que fica no norte da África.

Benzema em sua apresentação no Al Ittihad
Benzema em sua apresentação no Al Ittihad (Créditos: Getty Images)

Além de Benzema, Mané, Kanté, Koulibaly, Mendy e, talvez, em breve, Salah (negociando com o Al Ittihad) chegam ao país saudita como adeptos da religiosidade muçulmana, isso tudo somente na última janela. É uma quantidade considerável de jogadores que possuem a fé como denominador comum, o que pode implicar no fator de receptividade e pertencimento.

Esse é um tópico que ainda gera complicações na Europa. A França, por exemplo, proibiu a pausa durante os jogos de sua liga deste ano para a quebra do jejum no Ramadã, período da religião islâmica que prevê a abstinência de alimentos e líquidos. A Premier League, por outro lado, topou contribuir e aderiu aos protocolos que ajudaram os muçulmanos em sua última temporada.

É fato que a Arábia Saudita e outras nações vizinhas têm uma conta alta a pagar por problemáticas envolvendo a misoginia, LGBTfobia, intolerância religiosa, entre outros tópicos. Mas vale avaliar o quanto desse cenário é fatídico e qual é a parcela de sensacionalismo ocidental envolvida sob essa ótica. É possível ser crítico e questionar os princípios dos jogadores, países, donos dos clubes e torcedores em todos os ângulos.

*Texto sob supervisão de Gabriela Santos