Sportbuzz
Busca
Facebook SportbuzzTwitter SportbuzzYoutube SportbuzzInstagram SportbuzzTelegram SportbuzzSpotify SportbuzzTiktok Sportbuzz
Outros Esportes / MAIS QUE UM ESPORTE!

Mojave explica como aplicar estratégias do pôquer em outros esportes

Em entrevista exclusiva ao SportBuzz, Felipe ‘Mojave’ Ramos revelou como podemos colocar estratégias do jogo de pôquer no nosso dia a dia e em outros esportes

Felipe 'Mojave' Ramos - Romão Filmes / Divulgação GGPoker
Felipe 'Mojave' Ramos - Romão Filmes / Divulgação GGPoker

Quem ama pôquer, com certeza conhece o nome de Mojave. Felipe Ramos é um dos maiores nomes do Brasil no esporte de estratégia, tendo já vencido mais de 3 milhões de dólares em premiações ao redor do mundo, sendo o terceiro brasileiro que mais ganhou dinheiro na história com torneios ao vivo, de acordo com o “The Hendon Mob”. Natural de São Paulo, ele possui mais de 15 anos de carreira profissional, mas nem sempre foi assim.

“Eu sou um indivíduo absolutamente normal, da periferia do ABC de São Paulo, eu nunca fui ver o pôquer. Porque lá na comunidade a gente jogava truco, aprendi a jogar cartas com meus avós”, brincou Mojave, em entrevista exclusiva ao SportBuzz.

Mas, quem vê Felipe nem imagina que o poker entrou de uma forma completamente despretensiosa em sua vida.

“Um dia eu vi o pôquer na televisão e acabei encontrando na internet um site, para que eu pudesse jogar de graça, praticar, assim como eu jogava paciência no Windows. Então, algo bem esporádico, passatempo. Eu lembro que na época, eu tenho um fato bem marcante que foi a Copa do Mundo de 2002 [...], eu trabalhava em um banco, que virou o Itaú, eu era bem amigo dos gerentes e fui jogar poker ao vivo pela primeira vez ali com um gerente, que me convidou para jogar com a família dele”, relembrou o jogador.

“Ele caçava gente para jogar, inclusive, foi assim que nasceu o primeiro campeonato brasileiro de pôquer, caçando gente pra jogar, pegaram duas mesas e vamos ver. Eu só jogava online, aí fui jogar ao vivo, fazíamos tudo errado, uma bagunça. Aí uma loucura foi que eu nunca tive um relacionamento que eu olhava para o pôquer e pensava que queria ser profissional, eu nem sabia que era possível. Naquele dia eu saí de lá e comprei tudo quanto era livro online, porque fiquei fascinado pela estratégia do jogo, o mosquitinho tinha me mordido. E ali eu entendi que era um jogo de muito desenvolvimento pessoal, de inteligência, técnica”, seguiu.

Aí eu fui para a internet outra vez e comecei a achar vários jogadores que tinham blog. [...] Eu encontrei o blog desse cara e lá comecei a pegar dicas, de como jogar, porque jogar, ainda trabalhando no banco. Aí teve uma época que, na minha segunda profissão como músico, que eu cheguei a tocar seis dias da semana à noite. E começou a ficar muito pesado para mim, o banco, a música e o poker. Então, nesse desenvolvimento, o blog falava que você tinha que aprender outras modalidades, então eu comecei a aprender através dos livros e jogos online, comecei a jogar todos os jogos juntos”, completou. 

Felipe, além de multi vencedor na categoria, também concede palestras para jogadores e empresas para colocar as estratégias do esporte que pratica em outras áreas da vida.

“De todos os treinamentos que eu dou, das palestras em geral, tudo que eu passo, é base sobre a minha experiência. Então, eu fui tendo uma constatação ao longo do tempo, de que aquilo que eu tava aprendendo no poker, se eu soubesse aquelas técnicas na época que eu trabalhava no banco ou outras atividades, eu me daria muito melhor, porque aquilo poderia me preparar para eu pensar como se pensa no poker, para ajudar meu desenvolvimento”, explicou.

“Foi aí que eu desenvolvi esse conceito, que chama Mentalidade do Poker e sua Aplicação, como por exemplo para negócios, esportes. E é basicamente o que eu penso em uma jogada de poker, o que um jogador profissional tem em mente e usa como estratégia e tática, que leva ao sucesso a execução, que eu posso utilizar também em qualquer lugar”, acrescentou.

Felipe 'Mojave' Ramos - Créditos: Romão Filmes / GGPoker
Felipe 'Mojave' Ramos - Créditos: Romão Filmes / GGPoker

“Na minha palestra, vou entregar um spoiler aqui para você, perdão ao pessoal que vai conhecer aqui, é importante entregar tudo que se tem, é uma mentalidade do poker, entendeu? Já estou trazendo para você a principal mentalidade do poker, que é entregar tudo que se tem a todos os momentos. Aí eu chamo carinhosamente de Optimum Play, que é sempre observar qual é a jogada ideal, a mais indicada, para cada situação. Se você utilizar a técnica da Optimum Play, que é a que eu mais gosto de desenvolver, você colocaria, por exemplo, um detalhe no relatório para seu chefe, como uma sugestão. Foi pedido? Não, mas existem formas de otimizar o trabalho, então você está falando a língua que o corporativo quer ouvir”, explicou Felipe.

“Isso nasceu de uma jogada de poker, onde o pote tem 10 mil fichas, em um campeonato, e aí eu tenho uma trinca, que é uma mão muito forte, e já veio a última carta, que é river e meu oponente já deu check. É óbvio que eu foi apostar minha trinca, eu quero extrair mais fichas, quero entregar meu relatório, coletar o meu salário. Se o pote tem 10 mil, eu vou pensar em quem vai estar recebendo isso, no caso, meu colaborador na empresa”, comentou.

“Eu como jogador mais experiente, por entender o cenário, vou fazer uma jogada onde eu vou arrecadar mais fichas do que você, por exemplo. Então, pela leitura que você vai fazer, você vai apostar 5 mil fichas, que é metade do pote. Mas eu, pela experiência que eu tenho, vou apostar 10, que já é o dobro”, acrescentou.

Com uma carreira tão longa, é comum pensar que Mojave rapidamente se tornou profissional. Mas, não foi bem assim.

“É meu décimo sexto ano jogando profissionalmente, então eu demorei muito para fazer uma transição para jogador profissional. Muitas pessoas acreditavam que eu poderia ter feito antes. [...] Mas eu decidi me manter como semi, porque eu já tinha uma posição alta dentro da minha empresa, eu já tinha o sucesso máximo que um garoto da minha idade, recém formado, tendo passado nos testes e nas certificações que eu precisava. Então eu estava em uma posição muito privilegiada, de longe era a pessoa de mais sucesso dentro da minha faculdade. Então não queria jogar isso fora. Mas eu adorava o poker e queria seguir com ele em paralelo. Foi aí que o poker entrou no lugar da música. [...] Eu vou colocar o poker em tudo isso aqui, porque é possível colocar uma segunda atividade”, explicou o jogador.

“Eu sempre fui muito ligado ao esporte, por influência familiar. Eu tive a oportunidade de me desenvolver no poker porque, apesar de ser da periferia, de ser de escola pública e tal, minha família conseguiu me colocar em uma aula de inglês, tive um destaque, trabalhava em uma multinacional que era americana. Não acho que eu seja especialista em esporte, mas todo brasileiro pelo menos acha que é né? No futebol! É só fazer o contrário do que o treinador manda fazer. [...] Agora, no poker, você é responsável por todas as suas ações, e isso é muito forte. Porque, em um esporte coletivo muitas vezes, você pode ser o goleiro e tomar dois frangos, mas seu time ganhou de 10 a 2. Então, as suas falhas, podem não ter nenhum tipo de relação com o resultado, com o sucesso. A maioria das vezes vai ter, mas pode não ter. [...] No poker, você está trazendo um desenvolvimento pessoal a cada jogada. Porque perder nunca vai ser sorte. Perder sempre vai ser probabilidade. As pessoas perguntam qual é o percentual de sorte no poker, é zero! Porque a minha chance de perder é conhecida. [...] Explicar dessa forma é melhor para quem não sabe jogar. [...] A gente está falando de um desenvolvimento pessoal, de você fazer uma jogada que vai ser esperada um valor positivo, que é o que a gente chama de Expected Value. Essa é a primeira coisa que eu tento colocar na cabeça de um atleta, em um indivíduo, um time. Se a gente comparar o poker, vamos comparar muitas vezes com atletas de esportes individuais, como tenista, assim a gente tem uma comparação mais fidedigna. Mas se eu estiver falando de uma comparação mais profissional, ele pode desenvolver de todas as formas, independentemente de ser individual ou coletivo”, completou.

Mas como podemos colocar isso em prática em outros esportes, como no futebol? Ele explica:

“Buscar executar jogadas que vão ter um valor esperado positivo. Aí eu vou trazer esse conceito e a pessoa vai entender na jogada que ela tá praticando, nas situações que acontecem no dia dela, vamos mapear tudo isso, revisar todas as ações e identificar quais são as jogadas que tem valor esperado neutro e valor esperado negativo. Um exemplo muito simples é a sua pontualidade. Você já viu jogador de futebol chegar atrasado no apito do juiz? No caso do esporte, a gente vai no desenvolvimento de uma jogada. A gente criou uma técnica que se chama Arsenal de Jogadas.”

Confira a entrevista completa: