Sportbuzz
Busca
Facebook SportbuzzTwitter SportbuzzYoutube SportbuzzInstagram SportbuzzTelegram SportbuzzSpotify SportbuzzTiktok Sportbuzz
Testeira

Como é que eu fico nas tardes de domingo, sem Gildo...

Assim como tantos outros, o pequeno menino Gildo Fernandes de Oliveira fez da bola a sua vida. Com pouco mais de 15 anos lá estava ele treinando entre a molecada do Santa Cruz

Redação Publicado em 14/08/2022, às 10h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Como é que eu fico nas tardes de domingo, sem Gildo... - Ceará SC/ Flickr
Como é que eu fico nas tardes de domingo, sem Gildo... - Ceará SC/ Flickr

Nasceu em Recife no dia 12 de janeiro de 1940, Gildo Fernandes de Oliveira. Assim como tantos outros, o pequeno menino fez da bola a sua vida. Com pouco mais de 15 anos lá estava ele treinando entre a molecada do Santa Cruz. A habilidade com a bola nos pés era tamanha que não demorou muito para que o Vasco da Gama o levasse para fazer testes na, então, capital federal. Ainda uma criança, a solidão foi sua maior companheira, que a fez retornar para sua amada Recife, de volta à camisa coral.

O ano de 1960 começou e o promissor jogador acabara de subir dos juvenis para o time principal, onde passaria a enfrentar uma forte concorrência. Somada a isso, seus problemas crônicos no joelho, o fizeram mudar sua trajetória para uma nova direção, a capital alencarina, Fortaleza. Seguindo o caminho do cantador Luiz Gonzaga, outro pernambucano ilustre que deixou sua terra em busca do sucesso nas “pandas no Ceará”, Gildo passou a vestir a camisa alvinegra do Ceará Sporting Clube.

O menino, cujos joelhos teimavam a dor, foi emprestado, com o valor de seu passe estipulado em uma quantia bem abaixo ao da qualidade do seu futebol. O que Gildo fez, logo na primeira temporada com a camisa do Vozão foi inesquecível. Contratado em definido, o “Pernambuquinho” foi tricampeão cearense nos anos de 1961, artilheiro com 15 gols, 1962 e 1963, quando novamente foi o goleador maior com 16 gols.

Quanto ao estadual de 1962, se Gildo não foi artilheiro do campeonato, teve um papel decisivo na partida final frente ao Fortaleza, do genial Mozart, em 14 de abril de 1963. Logo aos 2 minutos, o Ceará saiu na frente, depois de jogada espetacular do atacante alvinegro que driblou três zagueiros adversários e tocou para o gol de Ivan Carioca. 

Após uma expulsão para cada lado, o Fortaleza chegou ao empate com um gol muito contestado pelos alvinegros. Logo na saída de bola, o Vozão desempatou o placar em outro gol polêmico. A partida se tornou em uma verdadeira briga campal, após o craque tricolor, Mozart, ser expulso. Após o reinício da partida, o jogador do Fortaleza, Haroldo, voltou a campo e agrediu o árbitro com socos e pontapés, sendo expulso. 

Quando o Tricolor partiu para cima do alvinegro, em busca do empate, coube a Gildo, de cabeça, marcar o terceiro gol do Vozão, o tento que sacramentou o bicampeonato e desestabilizou de vez os rivais tricolores. Aos 30 minutos do segundo tempo, seus dirigentes decidiram retirar o time de campo.

Habilidoso, oportunista, um matador nato que cheirava a gol, Gildo acabou sendo contratado pelo América de São José do Rio Preto, e após ótimas atuações, chegou a ser sondado para defender as cores de outro alvinegro, o Corinthians. Coube ao seu joelho direito impedir sua ida ao Timão. Ainda assim permaneceu no interior paulista até 1969, quando voltou ao time que pelo qual era apaixonado, o Ceará.

Foi o grande líder da equipe alvinegra que conquistou o seu maior título até então, a Copa Norte Nordeste de 1969. Nas finais frente à equipe paraense do Remo, Gildo fez história. Após perder a primeira partida, disputada no dia 17 de dezembro em Belém por 2 a 1, o Ceará precisava vencer o segundo jogo, no dia 19, para levar a decisão para outra partida. O jogo estava próximo do seu final e o placar indicava um empate em 2 a 2, quando aos 43 minutos do segundo tempo Gildo, de cabeça, marcou o gol da vitória. A emoção foi tanta que acabou tendo que ser levado ao hospital. O Vozão ficaria com o título ao golear o Remo na terceira partida por 3 a 0.

Em 1971, na primeira partida das finais do campeonato cearense, no dia 28 de julho, fez um gol antológico, após devolver, de cabeça, quase da intermediária, a cobrança de tiro de meta feita pelo goleiro Cícero, do Fortaleza. Após um empate sem gols no segundo jogo, coube a Gildo voltar a ser decisivo, na terceira partida realizada em 3 de agosto. 

Aos 44 minutos do segundo tempo, o Tricolor vencia por 2 a 1, quando o atacante alvinegro sofreu uma falta da entrada da aérea, quase um pênalti para Victor que empatou a partida e deu o título ao Vozão.  Campeão, aos 31 anos, acabou não tendo seu contrato renovado, uma tristeza com a qual passou a viver desde então. Encerrou sua história como jogador do Ceará com 261 gols marcados em 441 partidas disputadas, de acordo com números levantados pela dupla Eugênio Fernandes e Emanoel Cardoso. Uma incrível marca que faz dele o maior artilheiro da história do clube. 

Ainda defendeu, por duas temporadas a pequena equipe do Calouros do Ar, onde parou de atuar como atleta. Antes disso, no entanto, em partida frente ao seu querido alvinegro foi aplaudido de pé pelos torcedores do então rival, ao entrar em campo e logo após marcar o gol no Vozão, na única vez na história em que os torcedores do Ceará comemoraram um gol sofrido. Gildo estava acima de tudo, aliás, sempre esteve.

Como bem afirmou o historiador do clube, Pedro Mapurunga: “O Gildo está para o Ceará como o Pelé está para o Santos. Ele é o maior ídolo, o maior artilheiro, o homem das partidas decisivas. Foi o jogador do Ceará que mais fez gols no Fortaleza. Não existe nenhum jogador que chegue perto do que ele representa para o clube”.

Gildo foi chamado para o andar de cima em 9 de março de 2016.