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Colunistas / José Renato / FUTEBOL BRASILEIRO

Quando um show de strip-tease foi o craque de uma partida de futebol

Um fanático torcedor do Fortaleza Esporte Clube e dirigente da torcida organizada Fiel Tricolor usou a situação como uma possibilidade de aumentar o interesse da torcida nos jogos da sua equipe de coração

Redação Publicado em 09/07/2022, às 10h00

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Quando um show de strip-tease foi o craque de uma partida de futebol - Reprodução
Quando um show de strip-tease foi o craque de uma partida de futebol - Reprodução

Brega & Chique foi uma telenovela, de autoria de Cassiano Gabus Mendes, produzida pela Rede Globo de Televisão, entre 20 de abril e 6 de novembro de 1987. Estrelada por Marilia Pêra, Marco Nanini, Gloria Menezes e tantos outros astros globais, a novela foi considerada a melhor do gênero pela APCA, Associação Paulista dos Críticos de Arte, naquele ano e um grande sucesso de audiência em seu horário, convencionalmente, adotado como sendo o das sete horas.

Apesar de toda a boa repercussão provocada pela novela, ela acabou entrando na história da televisão brasileira, por conta da polêmica provocada pela sua abertura. Criada pelo designer Hans Donner, durante a sua exibição, ao som da música Pelado, da banda Ultraje a Rigor, o modelo Vinícius Manne aparecia, de costas, nu, com as nádegas expostas.

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A nudez do rapaz passou a ser um dos assuntos mais comentados do país naquele ano, e o rapaz viveu, como pouco, muito bem os seus quinze minutos de fama, com muitos elogios, sobretudo por parte das mulheres. No entanto, após algumas semanas de exibição da novela, o interesse acabou se transformando em grande polêmica por conta, principalmente do horário em que a cena era veiculada e do público da novela formado por muitas crianças.

Por conta de ação judicial, a Rede Globo precisou modificar a cena de abertura, com a inclusão de uma pequena folha que encobria as nádegas do jovem rapaz. Após muita negociação e uma repercussão muito negativa junto ao público, a censura acabou não durando muito tempo, e pouco depois a folha foi retirada. Sendo assim, a abertura voltou a ser exibida conforme houvera sido produzida originalmente.

Quando um show de strip-tease foi o craque de uma partida de futebol
Quando um show de strip-tease foi o craque de uma partida de futebol (Crédito: GettyImages)

Este episódio não passou despercebido pelo cearense Emanuel Magalhães, um fanático torcedor do Fortaleza Esporte Clube e dirigente da torcida organizada Fiel Tricolor e que identificou naquela nudez, uma possibilidade de aumentar o interesse da torcida nos jogos da sua equipe de coração. Aborrecido pelo baixo número de pessoas presentes no estádio, em media de 500 a 600 pessoas, resolveu convidar sua atual namorada, da época, uma ex-namorada e duas conhecidas para realizarem um show de strip tease momentos antes do início da partida entre o Fortaleza e o Quixadá, que aconteceria em 9 de julho, no estádio Presidente Vargas, o PV.

Pegas de surpresa, Rogelha, Sueli, Rosileire, todas com 21 anos, e Ana Paula com 18 anos, no inicio recusaram a proposta, mas acabaram convencidas pelo cachê de mil e quinhentos cruzados que seria dado para cada uma delas. Uma delas, Rogelha, em entrevista dada na época, chegou a afirmar que, embora trabalhasse como caixa de um supermercado, identificava aquilo como uma grande oportunidade de realizar seu grande sonho de ser tornar famosa, uma vez que já fazia shows a noite. Quanto a Emanuel coube o trabalho de divulgar junto a alguns órgãos de imprensa que haveria um desfile “especial” feito por um grupo de garotas.

Por volta das 18:00 daquele dia, como já era uma tradição, os torcedores tricolores começaram a chegar ao estádio e se aglomeraram ao redor de suas cercanias, para comer o sanduíche chamado pelo sugestivo nome de “Cai Duro”, pelo fato de ser feito por uma mistura de carne moída de várias origens, quase todas desconhecidas e beber algo que os tornassem mais animados para aquela partida. Mal sabiam eles o que estariam prestes a assistir.

Eram ainda muito poucos os torcedores posicionados nas arquibancadas, quando as 4 meninas entraram em campo, quase que em fila indiana, vestindo shortinhos apertados e camisetas coladas e empunhando bandeiras, começaram a acenar em direção ao público. Foi imediato o início dos gritos elogiosos, porém tímidos, por parte de alguns torcedores. De repente as meninas começaram a rebolar e fazer movimentos que insinuavam a predisposição a tirar suas roupas. Neste momento, um dos repórteres chegou a uma delas e perguntou: “Você vai tirar a roupa?”. Rapidamente ela respondeu: “...se o Emanuel quiser, sim...”.

Foi a senha para que os torcedores que ouviam o rádio ainda do lado de fora do estádio, resolvessem correr em direção a entrada, pularem catracas e passando por cima de tudo que vissem pela frente, chegassem para assistir o “desfile”. Segundo testemunhas, muitos largaram seus lanches no chão.

Ao que parece, isto animou ainda mais as meninas, que em pleno campo de jogo iniciaram o strip-tease sob os gritos de “tira tira tira...”. Quase que simultaneamente, foram tirando peça por peça, ao mesmo tempo em que eram orientadas para apressarem o show por conta da necessidade de início da partida, uma vez que até mesmo os jogadores das duas equipes tinham deixado seus vestiários para assisti-las.

Enquanto repórteres se esbarravam uns nos outros para entrevistá-las, os policiais começaram a pedir, entre uma olhada e outra mais maliciosa, que elas se retirassem. E foi sob muitos aplausos, e algumas vaias, por conta daqueles que queriam que elas continuassem lá, que as meninas saíram de campo em direção aos vestiários, mandando beijos para os mais de 5.000 torcedores presentes no estádio naquele dia. Segundo relatos da época, nenhuma delas chegou a ficar totalmente nuas, apenas sem a parte de cima e de biquíni do tipo fio dental.

Quando as duas equipes entraram em campo para dar o pontapé inicial, o que se viu, foi ainda mais curioso, alguns torcedores desceram as arquibancadas para terminarem de fazer os seus lanches, pois tinham interrompido por conta do show das meninas.

Ao contrário da animação antes de seu inicio, o jogo foi pouco empolgante, e acabou com a vitória do Fortaleza por 1 a 0, com um gol marcado já no segundo tempo. Após seu final, no entanto, o grande nome da partida, não foi nenhum dos jogadores que atuaram naquele dia, e sim, Emanuel, o torcedor, que não cansava de dar entrevistas para falar sobre o strip tease, bem como sobre o que estava sendo programado para acontecer na próxima partida de sua equipe, no clássico frente o grande rival, Ferroviário.

Emanuel não se furtou a afirmar que estava preparando algo ainda mais arrojado para este próximo jogo, o que fez com que muitos imaginassem que haveria, até mesmo, um show de sexo explícito. A imprensa passou a destacar muito o episódio destacando, principalmente, o quanto o futebol local estava falido por necessitar usar deste tipo de artificio para atrair público. Por conta da repercussão, algumas das meninas que fizeram o show chegaram a negar que sequer estiveram presentes naquele dia no estádio, quanto mais que haviam tirado a roupa. Já Rogelha, a mais desinibida delas, acreditava que poderia cobrar até mais por um novo strip-tease. Incomodado pelo acontecido e por seus desdobramentos, um juiz local chegou a decretar a prisão preventiva de Emanuel, por atentado ao pudor, sobretudo por conta da presença de crianças no estádio.

Assustado, Emanuel resolveu evitar novas entrevistas e desistir de novas peripécias. Ainda assim, em 19 de julho, ao chegar ao estádio para assistir o clássico entre Fortaleza e Ferroviário, acabou sendo preso e levado para dar maiores esclarecimentos para a justiça. Só foi liberado após prometer que jamais voltaria a organizar algo parecido. Ao que parece sua iniciativa acabou surtindo efeito junto aos torcedores que, na duvida, passaram a frequentar de forma mais efetiva os jogos do tricolor cearense, o que foi muito importante para levar a sua equipe a conquista do título estadual daquele ano, poucos dias depois, em 9 de agosto.