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Testeira

A história dos Jogos Olímpicos: Estocolmo 1912

Para entrar no clima de Tokyo, conheça um pouco da história de edições passadas das Olimpíadas

Eduardo Colli Publicado em 13/07/2021, às 10h27

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Anéis olímpicos - Getty Images
Anéis olímpicos - Getty Images

1912 - V Jogos Olímpicos –Estocolmo– Suécia

Abertura: 05.mai.1912 – Encerramento: 27.jul.1912

Abertura Oficial: Rei Gustavo V

Países Participantes: 28

Total de Atletas: 2407 Homens: 2359 – Mulheres: 48

Brasil (Atletas): não participou

Esportes: 17 - Eventos: 102

Depois da restauração em 1896, finalmente os Jogos foram realizados sem a sombra de uma exposição.

Escolhida como sede em 1909, a cidade de Estocolmo trabalhou duro e realizou os Jogos que foram considerados os mais bem organizados, até Sidney em 2000.

Muito contribuiu a mentalidade e o espírito dos suecos, que superaram vários problemas, entre eles o clima de rivalidade entre as nações europeias, que resultaria no confronto mundial quatro anos depois.

O Barão era favorável a um programa único de provas para todas as edições, mas os suecos, amparados na lei local, proibiram o boxe e para agradá-lo inseriram o pentatlo moderno – baseado no pentatlo – modalidade disputada nos Jogos Antigos que reunia: lançamento do disco, salto em distância, lançamento de dardo, corrida de velocidade e luta –, o Barão acreditava que essa modalidade seria a mais popular e palco dos grandes heróis olímpicos.

Outra grande novidade, as mulheres na piscina, com as disputas da natação e dos saltos. Após os Jogos, o COI baixou uma regulamentação limitando o poder do Comitê Organizador do país-sede nas decisões sobre o programa.

Contudo, o grande problema dos Jogos foi político.

Com a sensibilidade, na Europa, à flor da pele, a Boêmia e a Finlândia queriam participar com equipes próprias, contrárias aos impérios austro-húngaro e russo que respectivamente haviam anexado estes dois países.

Os suecos deixaram o problema nas mãos do COI. O próprio Coubertin alegou que a geografia esportiva nada tinha a ver com a política e convenceu o Kaiser Wilhelm e o Czar Nicolau, boêmios e finlandeses participaram com suas equipes, mas com uma condição, em caso de vitória boêmia ou finlandesa, seria hasteada a bandeira austro-húngara ou russa, respectivamente.

O magnífico estádio Olímpico - que de fora parecia um castelo medieval -, que custou 1 milhão de coroas e foi especialmente construído para os Jogos com capacidade para 30.000 espectadores, foi palco no dia 6 de julho da festa de abertura com 2.407 atletas de 28 países.

Estádio Olímpico 1912 - Créditos / Wikimedia Commons

Foi a primeira edição com países dos cinco continentes.

Os suecos utilizaram a cronometragem eletrônica extraoficial, um marco para a precisão e segurança dos resultados no Atletismo.

É importante ressaltar que de 5 de maio até o início de julho foram disputados os torneios de tênis e futebol.

A cerimônia oficial de encerramento ocorreu no dia 27 de julho, mas provas de esgrima, hipismo, iatismo e remo prosseguiram depois desta data.

A medalha de 1912

Medalhas de Estocolmo 1912 - Créditos / Wikimedia Commons

Frente: idêntica à medalha de 1908.

Verso: um arauto proclama a abertura dos Jogos, a frente da estátua de Ling, o fundador das instituições e do sistema sueca de ginástica e a inscrição: “OLYMPISKA SPELEN STOCKHOLM 1912” (‘Jogos Olímpicos de Estocolmo 1912’).

Maiores medalhistas

AtletaPaísEsporteTotalOuroPrataBronze
MasculinoHannes KolehmainenFinlândiaAtletismo4310
FemininoEdith HannamGrã-BretanhaTênis2200

Destaques

O finlandês voador e a bandeira russa

Hannes Kolehmainen cruzando a linha de chegada dos 5000 metros - Créditos / Wikimedia Commons

Com seis medalhas de ouro no atletismo, a equipe finlandesa ficou apenas atrás dos americanos.

Um dos motivos para o bom desempenho finlandês, foi Hannes Kolehmainen, conhecido como “Corredor Milagroso”, que venceu os 5.000, 10.000 e 8.000 cross country, além de ser segundo no cross country por equipes. Sua mágoa e do todos os finlandeses presentes ao estádio, era ver a bandeira da Rússia que nesta época ocupava a Finlândia, ser hasteada.

Nos 5.000 metros, Hannes bateu o francês Jean Boutin (que em Londres quatro anos antes, ao brigar com dois marinheiros ingleses em uma taberna do Soho, foi expulso da equipe e depois perdoado para competir em Paris) no sprint final e seu próprio recorde mundial.

Jim Thorpe 

Jim Thorpe - Créditos / Wikimedia Commons

O maior atleta em Estocolmo foi o americano de origem indígena Jim Thorpe, bisneto do grande chefe “Falcão Negro”, cacique da tribo Sac, conhecido como “Wa-Tho-Huck” (Sendero Brilhante), que aos 24 anos de idade, 1,88 metros de altura e 84 quilos, venceu as provas combinadas do pentatlo, na qual foi o primeiro colocado no salto em distância, 200 metros rasos, arremesso do disco e 1500 metros e terceiro no arremesso do dardo) e do decatlo (com 688 pontos de vantagem sobre o sueco Hugo Wieslander).

Após a premiação, o Rei Gustavo afirmou que Thorpe era o “maior atleta do mundo”, ele foi recebido como herói nacional, desfilou em carro aberto na Brodway em Nova York; sua desgraça começou em janeiro de 1913, quando foi acusado de ser profissional por ter recebido um salário semanal de US$ 25,00 para jogar por uma equipe de beisebol da segunda divisão americana entre 1909 e 1910. Julgado culpado pelo Comitê Olímpico Norte-Americano e pelo COI, Thorpe teve suas medalhas caçadas.

Depois disto, ele se tornou de fato profissional de beisebol e futebol americano, passou por vários empregos durante a recessão econômica de 1929, foi eleito “O Maior Atleta da primeira metade do século XX” em 1950, sua vida virou filme chamado “Jim Thorpe - All-American” pela MGM, com Burt Lancaster no papel principal e morreu de ataque cardíaco na miséria em 28 de março de 1953.

O movimento para resgatar os recordes e as medalhas de Thorpe, começou em 1943, mas foi desprezado pelo presidente Avery Brundage (que foi apenas o sexto colocado no Decatlo em 1912) do COI entre 1952 e 1972.

Graças a ao empenho pessoal do presidente Juan Antonio Samaranch, em 1983 seus filhos receberam de volta as medalhas e seu nome com todo o direito foi reconduzido aos livros de campeões olímpicos.

A maratona e infelizmente a morte

Na Maratona, o finlandês Tatu Kolehmainen liderou até a metade da prova, quando foi ultrapassado pelos sul-africano Kenneth McArthur e Christian Gitsham. Faltando três quilômetros para chegarem ao estádio, Gitsham parou para beber água como combinaram, enquanto McArthur seguiu em frente e venceu com quase um minuto de vantagem.

O fato lastimável aconteceu no 31º. quilômetro da prova, quando o português Francisco Lázaro sofreu um ataque cardíaco e faleceu no dia seguinte.

Os Incansáveis

Caption

Com onze horas de duração, na semifinal dos pesos médios ocorreu a mais longa luta da história olímpica, disputada entre Martin Klein, nascido na Estônia, mas competindo pela Rússia e o finlandês Alfred Asikainen. Ao final do combate, Klein, o vencedor, saiu tão exausto que não lutou a final, com o sueco Claes Johanson levando o ouro.

Outra longa luta ocorreu na final da categoria Meio-Pesado entre o sueco Anders Ahlgren e o finlandês Ivar Bohling. Lutaram durante nove horas sem que houvesse vencedor. Como o regulamento exigia um vitorioso para levar o ouro, os dois foram declarados pelos organizadores dos Jogos na segunda colocação.

Um acidente e muitas pedaladas

Com 320 quilômetros em torno do Lago Mälar, a mais dura prova de estrada do ciclismo e o mais longo evento olímpico de todos os tempos, foi iniciada às 14 horas e apenas cem metros após a largada, o sueco Karl Landsberg se chocou contra uma locomotiva, sendo arrastado por vários metros, mas milagrosamente saiu ileso.

O sul-africano Rudolph “Okey” Lewis, após um início lento, tomou a liderança próximo ao quilômetro 120 para vencer com uma grande vantagem de 8 minutos e 45 segundos.

Competindo na Alemanha quando explodiu a 1ª Guerra Mundial, Lewis foi preso e torturado em campo de concentração. Libertado, voltou para Johannesburgo com a saúde muito debilitada. Morreu em 1933.