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Futebol / ESPORTE E POLÍTICA

Messi e os petrodólares, um novo capítulo na rivalidade entre Catar e Arábia Saudita

A passagem do craque argentino por Riad causou comoção no Paris Saint Germain, que pertence às capitais do Catar; confira a histórica rivalidade e competição pela indústria do esporte

Cecilia Degl'Innocenti, para a Perfil Argentina Publicado em 04/05/2023, às 13h00 - Atualizado às 14h46

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Messi e os petrodólares, um novo capítulo na rivalidade entre Catar e Arábia Saudita - GettyImages
Messi e os petrodólares, um novo capítulo na rivalidade entre Catar e Arábia Saudita - GettyImages

De forma inusitada, Lionel Messi esteve no olho do furacão da rivalidade entre Arábia Saudita e Catar, que competem em vários níveis, incluindo investimentos em esportes. Embora os países vizinhos da Arábia Saudita tenham consertado suas relações diplomáticas nos últimos anos, eles têm um histórico de acusações cruzadas e bloqueios naquela que é uma das regiões mais quentes do mundo.

Nos últimos anos, a Arábia Saudita tentou imitar o Catar ao direcionar bilhões de seus petrodólares para a indústria esportiva, um movimento visto como uma tentativa de limpar sua imagem internacionalmente (prática conhecida como lavagem esportiva). Além de comprar clubes de futebol ou disputar sedes de outras competições, às vésperas da Copa do Mundo do Catar 2022, o governo saudita ofereceu a Messi um contrato multimilionário em troca de ele ser seu "embaixador turístico", uma espécie da face visível do maior país e poderoso da Península Arábica.

Viagem de Messi à Arábia Saudita

No último fim de semana, o craque argentino voltou a visitar Riad, capital saudita, com a família e faltou a um dos treinos do clube com o qual tem contrato até junho, o Paris Saint Germain (PSG), do Catar. Independentemente dos motivos, isso não caiu bem com o pequeno emirado que administra as cordas do clube francês desde que o comprou em 2011. Segundo a mídia francesa, a punição contra o campeão mundial foi dura: Messi não poderá jogar os próximos dois jogos, treinar com o time ou receber todo o seu salário mensal (que passa de 3,3 milhões de dólares).

Embora se especulasse que os dias de Messi em Paris estivessem contados por outros motivos, a sanção para sua caminhada em solo saudita teria sido por conta do alto comando em Doha. Entretanto, o assunto que parecia ser a priori de índole desportiva resvala também na geopolítica do Oriente Médio, uma zona estratégica que, todavia, sofre o eco da Primavera Árabe e os efeitos da luta pela hegemonia regional e pelo controle dos mercados de energia.

Messi na Arábia Saudita
Messi na Arábia Saudita (Crédito: GettyImages) 

A rivalidade entre Doha e Riad

A Península Arábica é a maior do mundo e está localizada em uma área estratégica que liga a Europa, a Ásia e a África. No entanto, o que o torna um dos ‘hotspots’ do globo é a abundância de petróleo e gás. Desde a década de 1970, a produção massiva desses recursos permitiu que os países que o compõem acumulassem riquezas extraordinárias (popularmente conhecidas como “petrodólares”) e se posicionassem no centro da agenda global ao controlar os preços daquela que era a principal fonte de energia.

O reino da Arábia Saudita, por sua vez, é o maior em termos geográficos e econômicos e estima-se que detenha 20% das reservas mundiais de petróleo. Já o Catar é o único país peninsular e suas dimensões não se comparam ao gigantesco vizinho, que também abriga as míticas cidades Meca e Medina. No entanto, possui a terceira maior reserva de gás natural do mundo, um dos maiores PIB per capita e também desempenhou um papel fundamental em nível geopolítico no processo pós-revolucionário conhecido como Primavera Árabe.

“São dois países historicamente muito interligados. O Catar sempre esteve de alguma forma na sombra da Arábia Saudita, mas nas últimas décadas começou a implantar uma certa política externa autônoma”, explicou à Perfil Argentina Kevin Ary Levin, sociólogo e mestre em estudos do Oriente Médio da Universidade de Columbia.

A Arábia Saudita é o país mais poderoso da Península Arábica, um aliado estratégico dos Estados Unidos que recentemente retomou as negociações com o Irã.
A Arábia Saudita é o país mais poderoso da Península Arábica, um aliado estratégico dos Estados Unidos que recentemente retomou as negociações com o Irã (Crédito: Reprodução)


“O que tem dividido os dois países nos últimos tempos tem a ver com o vácuo de poder que foi gerado na região a partir da Primavera Árabe. A Arábia Saudita viu como um momento de ameaças, de necessidade de controlar os danos e de apoiar forças mais conservadoras na região, enquanto o Catar viu nisso uma oportunidade de fazer exatamente o contrário”,
explicou.

Doha, por sua vez, foi acusada de apoiar grupos que “lutavam em nome da democracia ou por alguma revolta popular”.  Isso lhe rendeu o rompimento das relações diplomáticas em 2017 com o reino da Arábia Saudita e outros países que impuseram um bloqueio ao emirado após acusá-lo de servir de plataforma para grupos terroristas, incluindo a Irmandade Muçulmana, o Hamas ou mesmo a Al Qaeda, mesmo através da agência Al Jazeera do Catar. “O Catar apoiou forças que tentaram subverter e substituir a ordem existente e isso gerou muitas tensões entre os dois países que se encontraram em muitas fontes de disputa em lados opostos”, explicou o especialista. 

Competição no mundo do esporte

Em 5 de janeiro de 2021, Riad anunciou o fim do bloqueio a Doha e as relações bilaterais foram restabelecidas, suas fronteiras e embaixadas reabertas. “Desde então eles vêm se reconstruindo. Aliás, me pareceu simbólico ver o emir do Catar apoiando os sauditas na partida Argentina x Arábia Saudita. Hoje há gestos de aproximação entre Irã e Arábia Saudita. Nesse novo contexto, há motivos para renunciar a parte da tensão, considerando que boa parte da desconfiança saudita em relação ao Catar se devia a seus laços positivos com o Irã”, finalizou Ary Levin.

A rivalidade, entretanto, mudou para outras áreas, incluindo esportes. Por meio de seus investimentos multibilionários, os estados árabes se tornaram grandes jogadores no mundo do futebol e outras competições na última década. O primeiro a gerar impacto foi o estado catariano por meio de suas mais de cem empresas esportivas, entre elas a Qatar Sports Investments, dirigida por Nasser Al-Khelaifi, que em 2011 comprou 70% do PSG por um valor próximo a 70 milhões de dólares mais a absorção de dívidas multimilionárias.

Desde então, Doha tem feito o possível para tentar se tornar a capital do esporte, até encerrar o processo ao se tornar o primeiro país árabe a sediar a Copa do Mundo FIFA de 2022, que segundo cálculos privados teria custado US$ 200 bilhões. Além disso, contratou David Beckham, símbolo do futebol internacional, para ser seu embaixador, assim como os sauditas fizeram com Messi e algo que foi criticado por ONGs internacionais de direitos humanos.

Soma-se à briga entre Arábia Saudita e Catar pela figura de Lionel Messi a disputa para sediar outros eventos como a Copa da Ásia de 2027, os Jogos Asiáticos de 2030 (Doha) e os Jogos Asiáticos de 2034 (Riad). O reino saudita, por sua vez, prepara-se para ser palco do Mundial de 2030 e no mundo do futebol já assumiu o clube inglês Newcastle United em 2021.

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*Texto traduzido do site Perfil Argentina