Equipe do cavaleiro Vitor Dantas Medeiros se destacou no cenário nacional do esporte equestre com diversos resultados e termina o ano em alta
Julia Anastácio, sob supervisão de Gabriella Vivere Publicado em 14/12/2023, às 16h39
Ele saiu da Paraíba com 15 anos, sozinho, para se aventurar em São Paulo e viver o sonho de se profissionalizar num esporte de elite, sem nenhuma ajuda financeira. De uma família classe média, pais professores universitários, o cavaleiro se mudou para São Paulo em 2010, para estagiar com Yuri Mansur Guerios cavaleiro olímpico do Brasil.
“Eu tinha apenas 15 anos, e com essa idade a gente não tem ideia do que vai enfrentar, das dificuldades que vai passar, meus pais sempre fizeram de tudo pra me dar a melhor educação possível e sempre tentaram me proteger, então para mim foi uma mudança muito drástica passar a morar sem a minha família, tive a sorte de ter dois grandes amigos o Raphael Leite e o Lúcio Osório que trabalhavam juntos comigo, o que acabou me ajudando bastante, foram momentos de muito aprendizado” comenta o cavaleiro
Logo quando chegou a São Paulo o cavaleiro conquistou o Campeonato Paulista de Júnior 1,45m, foi Vice-Campeão do Clássico da Copa São Paulo, e foi convocado para representar o estado de São Paulo no Campeonato Brasileiro onde foi campeão por equipes, em seguida foi convocado para Seleção Brasileira para disputar o Sul-Americano (Júnior 1,45m) onde o Brasil se sagrou campeão.
“Foi uma surpresa chegar e em tão pouco tempo já ter essas conquistas, aprendi muito com o Yuri, fiquei um ano com ele. Em 2011 ele tinha classificado para Copa do Mundo e foi morar na Europa, eu já não tinha tanto aprendizado como no ano anterior, acabei recebendo um convite para ir trabalhar na Sociedade Hípica Paulista, que é a maior hípica do Brasil, então não pensei duas vezes em aceitar, com 16 anos a gente não faz ideia de nada, e muitas vezes tomamos decisões na empolgação mesmo sem ter conhecimento do que vai encarar” frisa Vitor
Vitor e Iwan na premiação do Internacional World Cup 1,60m qualificativo para as olimpíadas- créditos 2clac
Na Hípica Paulista, o cavaleiro passou 3 meses morando no carro, e conta que jamais imaginava tamanho aprendizado para vida.
“É um clube de elite, alguns dos associados são talvez os maiores empresários do Brasil, eu estava convivendo em um ambiente que não estava acostumado, eu cresci em um lugar muito diferente, as pessoas no Nordeste no geral são um pouco mais simples e tem valores e costumes diferentes. Lembro que quando estava morando no carro, algumas pessoas na hípica brincavam e falavam olha o “House Móvel” eu sinceramente não ligava pra aquilo, enquanto eu pudesse montar e praticar o esporte e ter a chance de seguir o meu sonho era só nisso que eu me concentrava” ressalta o cavaleiro
Em 2013 Vitor começou a dar aulas e conheceu Ana Paula sua aluna que viria a se tornar esposa, ela conta um pouco como foi a introdução de Vitor no clube.
“Minha família está no clube há mais de 40 anos, é um clube muito tradicional e fechado, quando eu quis que meu namorado frequentasse o clube comigo como associado, houve um movimento para que não fosse aceito, as justificativas eram diversas e todas absurdas, que o pai do Vitor era caminhoneiro, que ele morou um tempo no carro, que ele era da Paraíba, mas no fim era mais questão dele ser profissional no esporte, e os outros profissionais não quererem uma forte concorrência, porque além de ser um excelente profissional no esporte, ele também era admirado pelo caráter, e quando alguém assim entra no circuito eles vão tentando minar, é como se o território fosse deles e alguém estava ameaçando conquistar o espaço deles” comentou Ana.
Com o passar do tempo Vitor foi conquistando seu espaço, foi ganhando notoriedade no esporte e as pessoas o conhecendo.
“A gente aprende que o tempo é o senhor de tudo, com o passar dos anos eu fui ficando mais conhecido, também fui aprendendo muito com a Ana e a família dela, meus pais como professores sempre me deram uma boa educação, terminei a faculdade em São Paulo com muita exigência deles, eu era fui muito tímido, depois de um tempo fui melhorando e já conseguia conversar melhor com as pessoas no clube, e as pessoas se perguntavam, “mas esse é o Vitor filho de caminhoneiro?” Meu pai na época em que eu morava no Nordeste tinha um caminhão, ele mesmo dirigia e fazia frete para as competições para viabilizar minha participação, pois não tínhamos condições de bancar as viagens para as provas, foi a maneira que conseguimos viabilizar a nossa prática no esporte, tenho orgulho em dizer que foi graças a todo esforço dele que estou aonde cheguei hoje. Comecei a ter ajuda dos sócios que não eram profissionais, eu tinha acabado de viajar para uma competição internacional com 2 conselheiros do clube, o Alex Dattelkremer e o Felipão, eles me ajudaram muito. Fui aceito no clube e minha carreira só melhorou, frequentava mais o clube e foram aparecendo mais cavalos para montar e oportunidades de instruir atletas no dia a dia” comenta Vitor.
Hoje o cavaleiro tem um espaço no km 32 da Rodovia Castelo Branco para formação de cavalo e atletas, e continua treinando na Sociedade Hípica Paulista, Vitor foi o único atleta que monta na Sociedade Hípica Paulista a participar do nível profissional de competição, o Circuito Sênior Top 1,60m em 2023. O cavaleiro teve classificações em GPs internacionais a 1,60m, foi o 6° melhor cavaleiro do Brasil no Brasileiro de Sênior Top, e foi campeão paulista de Sênior.
“Foi realmente um ano especial não só para mim, mas para todos nossos atletas. Hoje são mais de 40 cavalos na responsabilidade da minha equipe, agradeço sempre a eles por serem animais tão incríveis, temos um dos melhores cavalos do país hoje, o Iwan, a história dele, de como ele veio para nós, percebemos ali o quanto Deus está no controle de tudo, ele enviou mais que um cavalo fantástico, enviou um amigo. Tivemos vários alunos competindo e vencendo, uma aluna competindo em nível profissional, a Nina, com apenas 16 anos e classificando entre profissionais, no último ano tivemos duas classificações em GP Internacional World Cup 1,60m, estivemos no pódio do Brasileiro de Sênior Top, que pra mim é o campeonato mais difícil que já participei até aqui, são 4 provas em 3 dias com exigência máxima. Quando paro pra pensar que há quase 14 anos eu vim pra cá com um sonho de viver do esporte, eu penso o quanto Deus é poderoso, eu não tenho dúvida nenhuma que tudo isso foi obra dEle, eu vejo como ele utilizou cada pessoa em minha vida, cada peça, cada detalhe e que se não fosse do jeito que foi não teria sido possível, eu só posso agradecer a cada um dos meus clientes, a cada pessoa da minha equipe, eu tenho muita sorte em ter grandes pessoas ao meu lado, pessoas do bem, que estão na mesma sintonia que a gente, com muito amor e carinho pelos cavalos, sozinho eu não teria conseguido, obrigado a cada uma delas” disse o cavaleiro emocionado
Ana esposa de Vitor completou também emocionada, o casal está junto há 10 anos.
“Que íamos chegar a conquistar tudo isso? Que o Vitor tinha potencial eu não tinha dúvidas, mas ele escolheu um caminho difícil por querer estar perto da família, ele ficou treinando 14 anos no mesmo clube, e insistindo que iria representar esse clube. Os profissionais antigos que estão no clube, as famílias estão há mais de 60 anos no clube, eles jamais aceitariam ver um profissional que não cresceu no clube, sem nenhuma influência no clube e de família humilde se destacar no mais alto nível do esporte nacional, ele foi o único atleta que treina na Hípica a participar do Circuito Sênior Top esse ano, e não só isso, esteve no pódio e com atuações sempre regulares, por tudo que eu vi ele passar, por todas as histórias que conhecemos, por ser um esporte de elite e ele estar talvez no maior clube de elite do país, eu posso dizer que foi um milagre, com certeza foi uma obra de Deus". - finaliza Ana.
Principal cavalo do cavaleiro, N10 More Than Extra, animal holandês da raça KWPN filho de Berlin x Heartbreaker, ou Iwan como o cavaleiro chama carinhosamente, vai colaborar na criação nacional da raça brasileira de Hipismo. Com atuações regulares, excelentes resultados, físico e genética vantajosos, o garanhão chamou a atenção da ABCCH e foi aprovado por mérito e rendimento esportivo como reprodutor nacional.
Ele tem apenas 10 anos e em pouco tempo aqui no Brasil conseguiu mostrar que está entre os principais cavalos do país hoje, sou suspeito pra falar, mas além de lindo ele tem uma personalidade incrível, é um cavalo extremamente elegante, tanto fisicamente como de personalidade, é calmo, dócil, carinhoso e focado, algo muito difícil em garanhões, tenho muita sorte em ter ele em minhas cocheiras, já tivemos algumas propostas e quase o vendemos para os Estados Unidos. Só tenho a agradecer aos meus parceiros Nenê, Gian e Felipe que junto comigo são os donos do Iwan.
Nenê é um dos proprietários do Iwan, o craque ex camisa 10 do Paris Saint-Germain da França, e atual camisa 10 do Juventude está contribuindo através de sua paixão pelos cavalos para o esporte no país, o Iwan leva as iniciais do craque “N10” no nome, por isso quando anunciado é sempre chamado N10MoreThan Extra.
Nenê fazendo carinho no Iwan no Internacional World Cup Indoor 2023 em agosto
“Ele é muito cuidadoso com o Iwan, dá todo carinho e suporte, pergunta sempre o que está precisando, fisioterapia, acupuntura, massagem, quiropraxia, ele trata realmente com muito carinho, acho que por isso o Iwan é tão carinhoso e dócil, por causa de todo o cuidado que recebe, eles, os cavalos, são as verdadeiras estrelas do esporte, eles são os astros, agora ele irá curtir as férias merecidas e namorar um pouco rsrs” comenta Vitor
Em 2024 a primeira prova do circuito profissional de hipismo começa em abril, o SHP Open abre o circuito Sênior Top e será observatório para o Jogos Olímpicos de Paris 2024.
