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Futebol / COPA DO MUNDO 2022!

Messi: elogio de sua vulgaridade

Em seus 35 anos, no final de sua inigualável carreira, o capitão da Seleção está nos demonstrando que cada espaço e cada pessoa tem o seu tempo, e que essa relação simbiótica com a Seleção e com o seu povo chegou agora para ele

Agustín Colombo, para a PERFIL ARGENTINA Publicado em 11/12/2022, às 15h54 - Atualizado às 19h25

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Messi, capitão da seleção argentina - Getty Images
Messi, capitão da seleção argentina - Getty Images

Lembram-se de quando nos zangávamos com Messi e dizíamos que ele não aparecia “nas difíceis”? Fechemos os olhos e façamos o exercício mental de viajar em retrospectiva a fragmentos de sua vida, que já é parte da nossa: uma vida coletiva. Lembram-se de todo pelo que o culpamos e tudo que exigimos dele nestes 17 anos com a Seleção?

Nestas horas, um certo moralismo oral e escrito o sela de vulgaridade e maus modos, quando todo um país festeja e infla o peito por ele e pela equipe de Scaloni. Por responder com fatos e gestos aos chutes do técnico Van Gaal e ignorá-lo, é questionado pela mídia europeia –especialmente a espanhola– e também pela mídia nacional, que dilui o burburinho para tentar – como Jauretche escreveu certa vez – desmoralizar e entristecer.

O fato é que Messi, com 35 anos, no final de sua inigualável carreira, está nos demonstrando que cada espaço e cada pessoa tem o seu próprio tempo, e que essa relação simbiótica dele com a Seleção e com o seu povo, que não se explica – só ocorre -, chegou agora. Não existe, entre as suas prioridades, uma mais importante que a Argentina. Ele demonstra isso em grandes jogadas, para muitas pessoas, imperceptíveis, como a que ocorreu em meio ao mal-estar e à revolta com o gol do holandês Weghorst.

Depois daquela final e primorosa jogada da Holanda, Messi chutou a grama, o ar, quase como o Chaves (do seriado mexicano). Ele apontou para o árbitro. Não havia consolo. Havia uma volta aos campinhos da infância no sul de Rosário naquele gesto inocente, naquela tristeza passageira que depois – felizmente – seria apenas uma lembrança ruim.

Messi em campo pela Argentina
Messi em campo pela Argentina (Créditos: Getty Images)

Lembram-se de quanto nos zangávamos por que ele não cantava o hino, quando o repreendemos que quase não era argentino? Talvez tenha dado a maior demonstração da identidade argentina ao final do inesquecível duelo contra a Holanda, quando lançou uma frase que já é bandeira, camisa e taça: “¿QuéMiráBobo? AndáPaAlláBobo”. Alguém escreveu no calor das festas: você pode deixar Rosário aos 12 anos, mas Rosário nunca sai de você.

Lembram-se quando exigimos que Messi fosse o líder que Maradona já foi? Quando o colocamos naquela analogia injusta e incômoda com o jogador que mais nos fez felizes, não só pelo que transmitiu em campo, como também pelo que transmitiu fora?

A morte de Diego, sua redenção definitiva, o choro de um povo que ele resgatou de sua imperfeição, e sua ascensão ao mito também liberou Lionel, o único capaz de seguir seu caminho de uma maneira diferente. Porque Messi nunca será Diego, mas Messi é o líder e emblema da Seleção há vários anos. As duas Copas América no Brasil consolidaram essa liderança. Um pelo lamento, outro pela comemoração.

Às vezes, os caminhos importam menos que os fins. E o Catar é isso. Um fim, o objetivo final da carreira de Messi. Relativizado por tantos argentinos e argentinos durante anos, agora Messi, além de sua magia, nos oferece sua sarna: é um cão de caça em busca de sua última presa, talvez a mais desejada de sua vida. Talvez seja por isso que o Catar já é sua melhor Copa do Mundo. O melhor de seus cinco campeonatos mundiais. Pelo que faz dentro de campo – seus quatro gols, seus gritos nas eliminatórias (novidade catari), suas assistências cirúrgicas, seus arrependimentos – e pelo que faz fora: seu papel de guia espiritual e de combate, sua marca Marvel em cada saída da equipe.

Ninguém sabe se vai conseguir ser campeão do mundo, mas temos a certeza que todos queremos que o consiga mais para ele do que para nós. Aí está a mágica disso: depois de tantas perguntas, tantas frustrações, "as finais que chorei", quase ninguém permite mais que alguém os questione pelo que faz. Não há mais espaço para críticas. Menos se tiverem um certo sopro classista . A felicidade do Messi é a nossa. Aprendemos a amá-lo, a defendê-lo e não exigimos mais nada dele: apenas que seja ele, em qualquer uma de suas formas.

Você se lembra quando ousamos questionar Messi por seu carisma? Porque ele era tímido, de poucas palavras, porque parecia que não se comovia.

Como fomos injustos e cruéis, irmão! Não há ídolo no mundo tão terreno para meninos e meninas como ele. Está ali, você pode tocar, podem pedir uma foto ou um autógrafo, e ele aceita, ri, agradece. Pesquisa no YouTube: Messi assina enquanto pede clemência aos seguranças que correm para enfrentar algum intrépido que interrompe um jogo para pedir autógrafo. Messi interrompe sua marcha no meio da multidão para chamar o menino que queria uma foto com ele. Messi aperta a mão e cumprimenta as meninas e os meninos que a FIFA envia com cada jogador em cada partida da Copa do Mundo. Os heróis muitas vezes não usam capas. Messi é um desses heróis. Ai de quem quiser nos roubar essa ideia. 

*Texto traduzido de Agustín Colombo, da Perfil Argentina.