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Rebeca Andrade relembra lesões antes das Olimpíadas e Mundial e reflete: "Sinto que realmente valeu a pena"

Em entrevista exclusiva ao SportBuzz, Rebeca Andrade afirmou que as lesões que já teve na carreira foram fundamentais para construir a mentalidade vitoriosa que possui hoje

Redação Publicado em 04/11/2021, às 13h56

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Rebeca Andrade comemorando nas Olimpíadas - GettyImages
Rebeca Andrade comemorando nas Olimpíadas - GettyImages

Carisma, humildade e superação são três palavras que poderiam facilmente definir a ginasta Rebeca Andrade. No entanto, um adjetivo em especial marca toda a trajetória da menina que aos 10 anos saiu de casa para seguir o seu sonho: força. Em entrevista exclusiva à jornalista Pietra Mesquita, para o SportBuzz, a atleta refletiu como amadureceu com as dificuldades.

Na ginástica desde os 17 anos, Rebeca Andrade já teve que encarar muitas barreiras para hoje ser medalhista olímpica, um ouro e uma prata, e Mundial, também com um ouro e uma prata. Natural de Guarulhos, em São Paulo, ela reconhece que ter feito sucesso que fez nas Olimpíadas foi furto de muita dedicação, e que fácil certamente não foi.

"Foi um processo difícil, mas também tive um aprendizado muito grande, tanto na minha vida de atleta como na minha vida pessoal. Eu tive muitas barreiras aí para eu chegar até o meu objetivo de hoje ter as minhas tão sonhadas medalhas, mas eu sinto que tudo valeu a pena, sabe? Todas as lesões que eu tive me amadureceram muito, me transformaram mesmo, fizeram eu dar valor a tudo que eu vive, a todas as coisas que eu tive que deixar para trás, e entender que eu precisava fazer aquilo para ter todo o sucesso que eu almejava, que eu tanto queria ter, então eu me sinto muito orgulhosa, feliz por tudo que eu passei, e hoje eu sinto que realmente valeu a pena", contou.

É inevitável dizer que a ginasta ganhou uma enorme visibilidade depois das Olimpíadas, sendo a primeira mulher brasileira a levar uma medalha, e ainda mais a de ouro, na história da competição. Rebeca literalmente estourou da noite para o dia, e estava na boca dos espectadores do Jogos, e de quem nem sequer acompanhava o esporte.

A responsabilidade da visibilidade

Apesar de hoje estampar capas de revistas famosas, fazer diversas publicidades, e representar marcas importantes, Rebeca entende que o espaço que ganhou não foi apenas para mostrar o que é a ginástica e o que ela pode fazer e transformar, o que já é superimportante, mas também que hoje ela tem uma voz muito ativa, que enfim consegue ser ouvida.

"Eu estourei assim, de uma hora para outra, de um dia para o outro, foi uma apresentação, uma coisa muito nova para mim, mas ao mesmo tempo era o que eu queria, porque isso tudo é a valorização do meu trabalho, eu faço ginástica há 17 anos, e hoje as pessoas estão realmente vendo o que é a ginástica, o que a gente pode fazer, como a gente pode transformar", indicou antes de completar.

"Hoje, a força que eu tenho na minha voz, e tantas coisas que eu represento também são muitos importantes para mim, tantas coisas que eu defendo, que eu acredito, e hoje as pessoas podem me escutar, hoje eu tenho uma voz muito mais forte, então eles tem um pouco mais de entendimento do que eu vivo, da minha verdade e tudo mais, então é bem legal, eu realmente queria muito isso porque eu acho que a gente está mudando o rosto da ginástica, a gente está mudando o rosto do esporte como um todo, de todo o apoio, de todas essas coisas, então está sendo incrível", concluiu.

Sabe o adjetivo dado a ela no início da matéria? "Humildade"? É o que a ginasta transborda ao falar que não lida com essa responsabilidade em forma de pressão, mas que desde o início tem muito claro em sua mente que a Rebeca que começou no ginásio, em um projeto social, é a mesma que saiu agora há pouco do Japão como campeã olímpica e Mundial.

"Não tem por que eu mudar a minha forma de pensar ou de agir porque hoje eu sou medalhista olímpica ou medalhista mundial, não muda, a minha essência não muda, a atleta que eu fui desde os meus cinco anos até agora com 22 não muda, sabe? Então eu vou continuar sendo essa pessoa feliz que eu sou, me dedicando como eu sempre fiz, tendo meus objetivos, querendo alcançar sempre o meu melhor, querendo sempre ajudar a minha equipe e as pessoas que eu posso, então eu vou sempre pensar nisso. Eu gosto muito de pensar que a única pessoa que eu posso controlar sou eu mesma, a expectativa das outras pessoas eu não tenho controle, então o que eles querem que eu faça, o que eles esperam, a pessoa que eu seja, eu não posso controlar isso", destacou.

Baile de Favela mundial

O que levou a ginasta ao auge certamente, além do seu visível talento, foi a música do MC João, "Baile de Favela". Usada como tema para a apresentação no solo, ela levou o funk brasileiro para outros rumos, e a pergunta que não quer calar é se Rebeca vai continuar se apresentando com ela daqui pra frente.

"Por enquanto eu não tenho em mente nenhuma outra música, então o baile vai continuar, mas não sei né, talvez eu mude, vamos deixar como surpresa", disse em tom de suspense.

As lesões

Antes de poder chegar nas Olimpíadas e ganhar o mundo, Rebeca teve o que nenhum atleta quer: lesões. Não foi uma, nem duas, mas pelo menos três, que segundo ela, até fizeram com que pensasse que tudo teria terminado, afinal, desde pequena no esporte, ela não sabia fazer nenhum outro tipo de "trabalho", mas seguiu em frente e conquistou tudo que tem hoje.

"É muito difícil para um atleta de alto rendimento sofrer uma lesão, qualquer tipo de lesão, e quanto é uma coisa grave, que te deixa muito tempo fora da sua prática de todos os dias, é muito difícil porque você vive para aquilo e aí você pensa, eu pelo menos pensava 'aí, eu só sei fazer ginástica, não sei fazer mais nada ainda além disso, então o que eu vou fazer da minha vida?", iniciou.

"Na primeira eu era muito nova, na segundo já foi uma coisa que eu não acreditava e deu aquela decepção porque eu estava no mundial também, eu estava super bem, em um momento ótimo da minha vida, eu estava no quase, e aí não foi, então eu fiquei bem chateada mesmo, também falei que não queria mais, peguei e voltei, continuei graças a minha equipe, graças a minha família, meus amigos que estavam sempre lá me apoiando e graças à Deus também que me deu uma força assim que eu não sei de onde que vem, mas sempre vem, sempre está do meu lado", completou.

"Em 2019 eu acho que foi uma das mais intensas porque era a minha terceira e o rompimento do ligamento cruzado já é uma lesão muito difícil e complicada de lidar, ainda mais para uma pessoa que pratica ginástica fica ainda mais difícil porque você usa seu corpo o tempo todo, então eu não sabia se eu ia conseguir voltar a fazer tudo que fazia antes, ou se eu ficaria mais ou menos, ou se eu ficaria muito bem, então todas as dúvidas que dão aquela prejudicada, mexe com a sua mente", lembrou.

O suporte

Para toda profissão que não segue o meio "tradicional", querer encarar um caminho diferente é o pesadelo dos pais, que só buscam a estabilidade para seus filhos. Porém, no caso de Rebeca, ela deixou sua casa aos 10 anos para poder treinar e seguir seus sonhos, foi difícil para ela, mas também para sua mãe, Rosa, deixar sua filha sair assim.

A medalhista olímpica destaca que ela foi um caso aparte, já que sempre teve o apoio de muitas pessoas no seu sonho, desde a pessoa que emprestou o dinheiro do ônibus para que ela pudesse chegar até o ginásio até a pessoa que cedeu um canto da sua casa para que ela pudesse ficar quando não tinha basicamente ninguém.

"Então eu queria dar todo o orgulho possível, queria fazer com que tudo aquilo valesse a pena de verdade, então eu trabalhei a minha vida toda para isso, para mostrar que realmente vale a pena você incentivar seu filho, você acreditar, mesmo que ninguém acredite, mas eu acho que eu fui caso a parte porque desde sempre eu tive o apoio de muitas pessoas, e eu comecei através de um projeto social, então desde criança essas pessoas viram alguma coisa de diferente em mim então tentaram em ajudar de alguma forma, então isso foi bem importante", contou.

Hoje, Rebeca Andrade diz que suas conquistas não são só dela ou de seu treinador, mas também de todas as pessoas que já a ajudaram um dia, e que busca, em cada campeonato, cada desempenho, fazer melhor e dar orgulho para quem sempre acreditou em sua capacidade.

"Eu sempre quero dar orgulho para as pessoas que me acompanham e que me amam, para a minha família principalmente, para o meu treinador também que nunca largou a minha mão, sempre acompanhou todas as minhas lesões, sempre acompanha todos os meus momentos felizes também, mas quando eu comecei a pensar no que eu queria, onde eu queria chegar, o que eu queria conquistar, o que eu queria fazer, as coisas começaram a dar certo, graças à Deus", disse.

Além disso, ela conta que mesmo que todos estivessem torcendo por ela, e acreditando no que podia fazer, iniciar um acompanhamento psicológico aos 13 anos mudou tudo porque apesar de ter uma grande rede de apoio, a Rebeca precisava confiar nela mesma e fazer as coisas por ela mesma, e foi quando tudo mudou.

"Isso foi muito importante para mim, porque ela me fez entender que as pessoas não acreditavam só no talento da Rebeca Andrade, mas na pessoa Rebeca, na simplicidade, na humildade, no esforço na resiliência, então eu sabia que se eu quisesse, eu quisesse mesmo, eu conseguiria porque estava todo mundo acreditando em mim, então o que faltava era eu acreditar em mim, então quando eu virei essa chave e comecei a fazer as coisas por mim, como eu falei logo no começo, tudo começou a dar certo de verdade", contou.

Os planos para o futuro

Depois de fazer história na ginástica artística brasileira, e chegar em lugares que nunca antes foram pisados, Rebeca projeta o fim deste conturbado ano de 2021 com mais calma, mas ainda sim com foco e treinamentos. A brasileira vai curtir um breve período de férias, e depois mente totalmente ligada nas competições do ano que vem.

"Agora eu estou conciliando os treinos com alguns trabalhos que eu vou fazer agora para o final do ano e logo em seguida eu entro de férias, e depois, bom, depois eu treino de novo em dezembro, aí vem natal e ano novo e aí ano que vem a gente já volta a treinar bem pesado com foco no Panamericano, para as Copas do Mundo, para o Mundial que também tem. Agora para o final deste ano não tem mais nenhuma competição, então é mais treinamento mesmo, mas janeiro a gente já vai estar pauleira, pegando fogo para voltar a competir", finalizou.