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Colunistas / José Renato / RED BULL BRAGANTINO

Nabi, o futebol e a política sempre juntos

Nabi entrou na vida pública em 1958, aos 26 anos, quando foi eleito pela primeira vez vereador de Bragança Paulista, no mesmo ano em que assumira a direção do Clube Atlético Bragantino

José Renato Publicado em 26/06/2022, às 16h00

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Nabi, o futebol e a política sempre juntos - Ari Ferreira/Red Bull Bragantino/Flickr
Nabi, o futebol e a política sempre juntos - Ari Ferreira/Red Bull Bragantino/Flickr

Nascido no Líbano em 21 de abril de 1932, Nabi Abi Chedid, ainda com seis anos, chegou com a família no Brasil a bordo do transatlântico italiano Oceania. Seu pai, Hafiz Chedid, se instalou em Bragança Paulista, cerca de 90 km da capital paulistana, onde se tornou político e solidificou o nome da família em toda a região por conta de inúmeros negócios desenvolvidos ao longo de sua vida. 

Já Nabi entrou na vida pública em 1958, aos 26 anos, quando foi eleito pela primeira vez vereador da cidade, justamente no mesmo ano em que assumira a direção do time de futebol local, o Clube Atlético Bragantino, que já fora presidido por seu pai. Começava ali uma das mais longas histórias da consolidação do poder político de uma cidade com o futebol, não por mero acaso justamente no ano da conquista da primeira Copa do Mundo pela Seleção Brasileira de Futebol em terras suecas. 

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Ao longo de sua vida, Nabi atuou como deputado estadual de São Paulo durante 10 mandados entre os anos de 1962 e 2003. Nesta primeira oportunidade como presidente do Bragantino levou o clube a conquista do título da segunda divisão do paulista em 1965, o que credenciou a equipe para disputar a principal divisão do campeonato paulista no ano seguinte. 

Ficou no comando da equipe alvinegra até 1977. Dois anos depois assumiu a presidência da Federação Paulista de Futebol, cargo que ocupou até 1979. Em 1986, era candidato a presidência da CBF contra o então presidente Giulitte Coutinho, quando de última hora promoveu uma inversão na cabeça da chapa com o candidato a vice, Otávio Pinto Guimarães, que era mais velho e que em caso de empate levaria vantagem diante Giulitte.

Nabi Abi Chedid, estádio do Red Bull Bragantino
Nabi Abi Chedid, estádio do Red Bull Bragantino (Crédito: GettyImages)

Acreditando que Otávio não sobreviveria a um câncer, o que o levaria a presidência, a manobra acabou não dando certo. Otávio viria a falecer em 1990, pouco mais de um ano após deixar o comando da CBF, que já estava sob gestão de Ricardo Teixeira, então genro de João Havelange, presidente da FIFA. Ainda que tenha sido o chefe da delegação brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1986 no México, Nabi acabou por ver seus planos de controlar o futebol brasileiro vir abaixo.

Se no futebol, as coisas não iam conforme planejado, na política o cenário não parecia ser dos melhores. Sua eleição para deputado estadual no pleito eleitoral de 1982 tinha sido tranquila, com mais de 86 mil votos, no entanto, afastado do Bragantino, que andava por divisões intermediárias do futebol paulista, e “escondido” como vice-presidente da CBF, por conta dos constantes conflitos com o antigo presidente, e sem muita proximidade com o atual, Ricardo Teixeira, Nabi se reuniu com a família e seus  correligionários mais importantes para definir uma nova estratégia em prol do fortalecimento de sua liderança política. 

Foi assim que promoveu o retorno do controle da família ao comando do Bragantino. A intenção era utilizar o futebol para garantir a sustentação de sua base eleitoral e a partir daí buscar novos intentos. Já em 1988, a equipe conquistou o acesso para primeira divisão do campeonato paulista. No ano de 1989, o clube foi campeão brasileiro da série B e semifinalista da competição estadual, ao eliminar o até então invicto Palmeiras que se mostrava como a equipe mais vistosa do futebol paulista naquela ocasião. 

No ano seguinte, 1990, sob o comando do então desconhecido técnico Vanderlei Luxemburgo, e com jogadores que em breve estariam nas mais importantes vitrines do futebol mundial, tais como Mauro Silva e Gil Baiano, o Bragantino conquistou o título paulista da primeira divisão, sendo o segundo clube do interior do estado a alcançar este feito, um feito até então exclusivo à Internacional de Limeira em 1986. 

O Braga era um sucesso e costumava ser apresentado como um grande exemplo de boa gestão, um clube de vanguarda, exemplo a ser seguido. Muitas dessas conquistas, certamente se deveram ao investimento feito pela família Chedid, sobretudo Nabi, que geria tudo com mão firme. Ele não fez por menos e usou desse sucesso nos campos para promover sua eleição no pleito de 1990.

“Nabi é Braga. É Bragantino. Nabi é força e tradição. 25118, vote Nabi o Candidato do Povão”. Ainda que longo e sem rima fácil, este single, apresentado junto com imagens de gols do Bragantino, foi usado a exaustão durante toda a campanha política e ajudou a render bons resultados ao candidato Nabi, que quase que dobrou sua votação, se comparado ao antigo pleito, com mais de 50 mil votos. 

Ainda forte nos campos, o Braga chegou ao vice-campeonato brasileiro em 1991, sob o comando do técnico Carlos Alberto Parreira, que conquistaria a Copa do Mundo em 1994 com a seleção brasileira. No ano seguinte, 1992, além de realizar uma ótima campanha no campeonato brasileiro, a equipe se tornou a primeira do interior paulista a disputar uma competição oficial internacional, a Copa Conmebol. 

Com o comando no futebol meio consolidado, o que lhe ajudou a aumentar sua votação nas eleições de 1994, quando foi eleito com quase 57 mil votos, Nabi e a família resolveram, novamente, frear os investimentos na equipe. O resultado disso é que a partir de 1995, o Bragantino passou a viver uma derrocada que resultou em rebaixamentos consecutivos nas competições estaduais e nacionais. 

A queda de performance em campo teve, quase que reflexos imediatos nas urnas, e em 1998, pela primeira vez, até então, Nabi obteve apenas a suplência na Assembleia Legislativa. Ainda que tenha assumido logo em seguida, ficou claro que a perpetuação de sua liderança política continuava ligada intimamente com os investimentos feitos no futebol do Bragantino. E que o retorno a esta estratégia poderia estar comprometido não apenas por conta do aumento das cifras envolvendo o futebol, mas também pelo longo caminho que voltaria a ter que ser traçado. 

O ano de 2002 ficou marcado pelo fim da dinastia de Nabi na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, uma vez que não conquistou a reeleição e o rebaixamento do Bragantino para a Série C do Campeonato Brasileiro. Ainda como vice-presidente da CBF, Nabi veio a falecer em 29 de novembro de 2006, e seu nome passou a ser o do estádio do Bragantino, a partir de 2009, no lugar de Marcelo Stefani, durante a gestão de seu filho, Marco Chedid, como presidente da equipe da terra da linguiça, que em 2018 disputará a primeira divisão do campeonato paulista e a Série C do campeonato brasileiro.