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Em Serra Talhada, briga entre famílias políticas dá fim a um clube

Em Serra Talhada várias equipes foram criadas, dentre as quais se destacaram o Atlético Clube Serratalhadense, também conhecido como o Atlético de Damião Romão

Redação Publicado em 13/08/2022, às 10h00

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Em Serra Talhada, briga entre famílias políticas dá fim a um clube - Transmissão/ YouTube
Em Serra Talhada, briga entre famílias políticas dá fim a um clube - Transmissão/ YouTube

Cidade onde nasceu o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, Serra Talhada recebeu este nome por estar localizada próxima a uma montanha cujo formato sugere que tenha sido talhada. Também conhecida como a capital do xaxado, dança típica criada pelos cangaceiros de Lampião, é uma das maiores cidades do sertão pernambucano.

Nos anos de 1950, sobretudo por conta da realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, o esporte passou a gozar de uma popularidade jamais vista em outra época da história, saindo das capitais para as pequenas cidades do interior do país.  Em Serra Talhada várias equipes foram criadas, dentre as quais se destacaram o Atlético Clube Serratalhadense, também conhecido como o Atlético de Damião Romão (dono e jogador do time) e o Estudantil.

O Atlético contava em seu plantel com os irmãos, Hildo e Nildo, filhos de Argemiro Pereira de Menezes, um dos maiores criadores de gado bovino do município, e com os irmãos Oliveira, Inocêncio, Paulo e Sebastião.

Filho do coronel Manoel Pereira Lins, ex-vereador da cidade, Argemiro herdou dele sua vocação para a política, sendo vereador por 3 mandados, antes de ser eleito deputado estadual em 1958. Teve decisivo papel na escolha de seu filho, Hildo, para prefeito de Serra Talhada entre os anos de 1959 e 1964.

Já a família Oliveira, embora muito próxima a família Pereira não dispunha, até então, da mesma vontade de se enveredar pelos caminhos da politica. Um exemplo disso é que ainda em 1958, Inocêncio abandonou Serra Talhada e se mudou para Recife para estudar medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Tão logo retornou a cidade passou a colaborar como médico da equipe local, o Comercial Esporte Clube, que houvera sido fundado, ainda que informalmente, em 1963.

Após algum tempo, passaram a atuar unidos na politica local. Em 1969, foi a vez do outro filho de Argemiro, Nildo Pereira se tornar prefeito de Serra Talhada, e seu vice- prefeito foi Sebastião Oliveira. Durante seu mandado, Nildo pode realizar um dos sonhos de seu pai, a construção do estádio municipal, que recebeu o seu próprio nome, mas que passou a ser conhecido como “Pereirão”.

Se em campo as coisas iam bem, o mesmo não poderia se dizer com a amizade entre as famílias. Embora contando com o apoio de Nildo, Sebastião foi eleito para o cargo de prefeito da cidade para o mandado entre os anos de 1973 e 1977, no meio de certa cizânia entre seu irmão Inocêncio Oliveira e o velho Argemiro Pereira, então deputado estadual. A divergência se tornou em inimizade quando Inocêncio se filiou a ARENA, mesmo partido de Argemiro, e foi eleito deputado federal em 1975. Embora jamais tivessem sido prefeitos de Serra Talhada, a briga pelo controle da cidade era fragrante.

Com o fim do mandado de Sebastião Oliveira, coube a Hildo Pereira voltar a assumir o cargo de prefeito da cidade em 1977. Amante do futebol coube a ele concretizar um feito quase impossível. Após árduo trabalho, convenceu os dirigentes da Federação Pernambucana de Futebol a incluírem o Comercial no campeonato estadual de 1980. 

Pela primeira vez na história, o sertão pernambucano estaria representado na competição. Serra Talhada viveu momentos inesquecíveis, com grande participação da população para assistir aos jogos do “Tremendão da Serra”. O estádio “Pereirão” vivia lotado e a equipe, por várias vezes, chegou a ser destaque na revista Placar, a maior publicação brasileira dedicada ao futebol.

Apesar das dificuldades em manter o clube, que era bancado pela prefeitura municipal, a presença do Comercial era motivo de orgulho para a cidade. Infelizmente, a inimizade entre as famílias Pereira e Oliveira, daria fim a tudo isso.

Durante as eleições municipais de 1982, a derrota do candidato Luiz Lorena, apoiado pela família Pereira, para Sebastião Oliveira, foi decisiva para o fim do Comercial. Ainda no primeiro trimestre de 1983, Sebastião tirou todo apoio financeiro da prefeitura a equipe, dando fim ao Comercial e, por conseguinte ao sonho da família Pereira.

Posteriormente, Inocêncio Oliveira, que chegou até mesmo a ocupar o cargo de Presidente da República, voltou a se aliar com Argemiro Pereira, e as famílias voltaram a se unir em prol do controle da cidade, mas isto de nada adiantou para ressuscitar o Comercial.