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Futebol / ESPECIAL MÊS DO ORGULHO!

Idealizador do maior torneio LGBT+ no Brasil fala sobre a falta de visibilidade no esporte para a comunidade

Filipe Marquezin, um dos criadores da Champions Ligay e da True Colors, além do time LGBT+ Unicorns, conversou sobre a homofobia no esporte

Marcello Sapio Publicado em 28/06/2020, às 15h00

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Idealizador da maior liga LGBT do Brasil analisa a visibilidade da comunidade no esporte brasileiro - Instagram
Idealizador da maior liga LGBT do Brasil analisa a visibilidade da comunidade no esporte brasileiro - Instagram

O mês de junho ganhou uma importância a mais para a comunidade LGBT+. Isso porque, durante os 31 dias, se é celebrado o mês do orgulho e da conscientização da comunidade.

A luta das pessoas que integram este grupo nunca se fez tão necessária. Em 2019, a cada 16 horas, uma pessoa foi morta por homofobia. Infelizmente, esse tema ainda é um tabu na sociedade, brasileira e mundial.

No esporte, esse tabu se exponencia. Pouquíssimos atletas no esporte se assumiram homossexuais ou outra opção dentro da comunidade, por medo de perderem patrocínios e até seus clubes. 

Até com a homofobia estrutural, pessoas integrantes da comunidade LGBT+ costumam ser afastadas da vida esportiva, por preconceito.

O Sportbuzz conversou, com exclusividade, com o advogado Filipe Marquezin. Ele é um dos pioneiros, com a criação do time de futebol LGBT, Unicorns Brazil.

Além disso, ele também é um dos idealizadores da Champions Ligay, torneio que envolve 24 times LGBT+ de todo o Brasil, e também a True Colors Cup, que é o maior torneio esportivo LGBT do Brasil.

Entre outros assuntos, Filipe conversou sobre a falta de apoio que o esporte inclusivo à comunidade sofre e também como a homofobia estrutural afeta o esporte brasileiro.

No começo da entrevista, ele repercutiu a fala do capitão do Watford, Troy Deeney, no qual afirmava que, em todo time haveria, pelo menos, um jogador gay ou bissexual.

Filipe concordou com o atleta e disse: "O que ele falou não é mentira, né? Porque um quarto da população faz parte da comunidade LGBTQIA, se jogarmos isso para os times de futebol, imagina: 25% dos times, teoricamente, são gays. É número elevado, eu acho, que os times porque o esporte que é assiduamente praticado por héteros, mas mesmo assim que seja 25%, se formos considerar 10%, 15% (de atletas LGBT+) já é bastante gente que tá 'presa no armário' não pode se assumir".

Ao ser indagado do porquê que isso acontecia, Marquezin foi direto: "Eu acho que isso acontece (atletas não se assumirem) pois eles ficam presos, em razão do medo de perderem patrocínios, entendeu? Não vai ser ninguém que vai sair por aí comprando a briga e assumindo o risco de, no dia seguinte, perder o contrato com alguma empresa, não ser mais patrocinado por marcas x, y e z. As empresas, efetivamente, ninguém sabe como elas vão agir. Porque elas estão mercado que já é muito estabelecido é muito fortalecido, entendeu? Elas não têm também o porquê comprar essa briga (...) O jogador tem medo de se assumir por perder contrato, a empresa tem medo de comprar a bandeira e perder mercado, deixarem de lucrar o que hoje elas lucram então é por isso que não há tanta gente assumida no futebol.".

Outro assunto abordado na entrevista foi o dos recentes atos contra a homofobia que aconteceram no esporte, em especial no futebol, brasileiro.

Os principais foram a ação do STJD em proibir que cantos homofóbicos fossem proferidos nos estádios, como por exemplo o grito quando o goleiro adversário cobrava o tiro de meta.

A mais recente foi a hashtag "Pede a 24", após o dirigente do Corinthians negar o pedido do jogador Cantillo, na época recém-chegado ao clube, de usar a camisa 24 por significar, no tradicional "jogo do bicho", o animal veado.

A negativa tomou proporções nacionais e diversos jogadores e clubes darem a camisa 24 para seus respectivos atletas, em um movimento contra a homofobia. Após a repercussão, o Corinthians voltou atrás.

Filipe comentou sobre os atos e sugeriu o que ainda pode ser feito: "Eu acho os fatos muito bonitos, muito importantes. Eles servem para mostrar que tem gente que talvez queira sair do armário, entendeu? Mas eu já volto para aquele ponto, enquanto não tivermos um grande jogador ou uma grande marca, principalmente um grande jogador, que assume isso publicamente, acho que vai ser muito difícil. Temos pontos importantes, como por exemplo torcidas que estão se organizando para vetar que homofóbicos ou atos homofóbicos aconteçam dentro da própria torcida. Isso é muito importante, porque esse jogador que vê que sua torcida está sendo menos homofóbica e menos machista, ele vai se sentir mais confortável a um dia se assumir. Mas eu acho que a gente volta para aquilo que eu te falei no início, acho que ainda estamos um pouco distantes. Não sou nem pessimista. Em razão disso, da falta de marcas apoiarem o futebol e do futebol ser um mercado extremamente estabelecido e que ninguém quer muito comprar essa briga".

"Olha, acho que já fazerem trabalhos para os próprios jogadores, entendeu? Para mostrar, principalmente os jogadores, como palestras, aulas, tudo mais que você vai levar para os atletas até que eles se sintam seguros. Se a diretoria mostrar para o atleta que ele está seguro, seja qual for a orientação sexual dele, já vai ser um passo positivo. Se a torcida gritar ou não, diretoria tem que ter a posição contra aquilo que está pregando. É difícil? É, porque ninguém quer ter a torcida no cangote xingando. Mas seria um dos primeiros pontos, entendeu? Procurar as torcidas que demonstram o apoio de mais e dar mais voz a elas, mais forças a elas", completou Filipe Marquezin.

Ele também analisou no contexto da mídia esportiva brasileira e o que ela, como formadores de opinião, podem fazer para lutar contra a homofobia no futebol: "São duas as frentes, né? A primeira frente é acabar com qualquer tipo de piada feita entendeu? 'São Paulo time de bambi’, se for ou não for, pouco importa. Nada apaga os três mundiais do São Paulo. 'O Corinthians tem a maior torcida de gay', e daí? Nada apaga toda a história do Corinthians. 'Vi um gay se beijando na torcida do Palmeiras' está ok. Nada apaga a história do Palmeiras, nada apaga o estádio maravilhoso do Palmeiras. As pessoas precisam parar, a mídia precisa parar um pouco com essas piadas, porque isso só reforça coisas que a gente tenta brigar todo dia. Piadinhas assim não levam a nada e só são feitas para o narrador ali tentar um lacre, tentar gritar e fazer aquela baboseira toda".

"E outra frente é cobrir cada vez mais eventos, como os voltados para comunidades. Pequenas? Pequeníssimo (se referindo ao tamanho dos eventos voltados para a comunidade LGBT no esporte). Mas que esses eventos apareçam e mostrem a todos que existimos e aquele que está no sofá, saiba também que ele tem um espaço onde quer que for. Se for um gay assim sentado no sofá, ele sabe que existem times que ele pode jogar, que ele não precisa ficar com medo de assumir que é gay e jogar futebol", disse.

Filipe também revelou uma história de uma jogadora, cuja a identidade não fora revelada, que fora ameaçada por ser lésbica. Com isso, ele também refletiu sobre o tabu de se assumir LGBT+ enquanto profissional: "Eu já vi uma entrevista de uma jogadora que era lésbica, que ela deu a entrevista e tudo mais, iria ser divulgado isso, mas na noite da entrevista, ela ligou pra entrevistadora e disse 'Olha, pelo amor de Deus, não divulga meu nome. Meu empresário descobriu e falou que se saísse (a matéria), o time vai romper comigo'. Isso é uma jogadora de vôlei, que a gente sabe que já não tem o mesmo apoio, o mesmo tipo de apoio financeiro do futebol, e assim por diante. O próprio Diego Hypólito, a gente sabe que só se assumiu, apesar de ser notório que ele era, todo mundo saber, depois que ele se aposentou, porque querendo ou não, tinha uma imagem a zelar, essa coisa que as pessoas consideram, que é pessoa hétero tem, um atleta hétero. A população acha que um atleta hétero vai representar melhor ele do que um atleta gay ou uma atleta lésbica".

Por fim, ele também falou sobre a sua relação com os estádios e se ele, em algum momento, deixou de ir por medo de sofrer algum tipo de repreensão: "Eu já fui muito a estádio, entendeu? Já frequentei muito o estádio do São Paulo, o do Palmeiras, mas eu não sou um torcedor de estádio. Não é por questão de homofobia ou não. Apenas não me apetece perder tanto tempo indo e vindo pra ver o futebol no estádio, entendeu? Não gosto, acho desconfortável. Prefiro realmente assistir o jogo da televisão mas conheci muita gente do time (Unicorns), de outros times, que largou mão dos estádios em razão disso. De estar lá com namorado e foi ofendido, foi ameaçado e ouvir 'aqui não' ou 'vai pra lá'. Na primeira vez, você engole, já na segunda você fica com medo, então isso afasta. (Afastou) pessoas que eu conheço, sim".


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