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Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga

Saiba tudo sobre o surgimento dos Jogos Olímpicos, incluindo seus mitos, leis e primeiros vencedores!

Eduardo Colli Publicado em 21/05/2021, às 09h00

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Entenda as lendas por trás do surgimento dos Jogos Olímpicos - Getty Images
Entenda as lendas por trás do surgimento dos Jogos Olímpicos - Getty Images

Origens

Na história da Grécia Antiga, lenda e realidade se confundem com histórias e feitos dos deuses e heróis. Por este motivo, várias versões tentam explicar o surgimento dos Jogos Olímpicos.

A primeira delas conta que entre 2500 e 2300 a.C., após Cronos destronar Urano, ele e seus quatro irmãos que habitavam o Monte Ida, se estabeleceram em Olímpia. Héracles, o mais velho deles, para homenagear Zeus, propôs uma corrida, – o vencedor recebeu uma coroa de ramos de oliveira – ,origem dos Jogos, que passaram a ser disputados de quatro em quatro anos.

Na segunda versão, Enomao, Rei de Pisa e soberano de Olímpia, foi avisado por uma pitonisa (mulher que possuía o dom da profecia) que seria destronado e morto pelo pretendente de sua filha Hipodâmia. Por precaução, Enomao convocava os candidatos a "genro" para uma corrida de biga, disputada entre o altar de Zeus em Olímpia e o altar de Poseidon em Corinto. Ele venceu e matou treze pretendentes.

Hipodâmia com a cumplicidade de um escravo sabotou a biga (carroça de duas rodas) de seu pai, e Pélope, seu amado, se sagrou vencedor. Em outra hipótese acredita-se que Pélope invocou a proteção dos deuses e recebeu um carro de ouro e quatro cavalos alados e Enomao teria morrido na disputa

Para comemorar a vitória e o casamento, os noivos, em honra a Zeus, instituíram os Jogos, realizados em intervalos fixos de quatro anos. Os filhos do casal se espalharam pela península sul da Grécia, até hoje chamado de Peloponeso.

Crédito: Domínio Público, via Wikimedia Commons

Na última versão, Hércules recebeu como sexto trabalho dos “Doze Trabalhos”, limpar os estábulos dos animais de Áugias, rei de Elis, que sujos há trinta anos, exalavam mau cheiro. Ele removeu as fezes para o campo e desviou o curso do Rio Alfeu, fazendo com que suas águas lavassem as estrebarias.

Como o rei não cumpriu o acordo de lhe dar a décima parte do gado, Hércules matou Áugias, seguiu para Olímpia e criou os Jogos em homenagem a Zeus e a si próprio.

Lendas à parte, somente a partir do século VII a.C. surgiram as primeiras referências arqueológicas e históricas, revelando que durante muito tempo, Pisa, Elis e Esparta, as principais cidades-estados gregas, lutaram entre si e destruíram a unidade do país. Ífito, rei de Elis, consultou o Oráculo de Delfos que revelou a intenção dos deuses de intervirem nesta guerra, desde que os Jogos instituídos por Hércules, e que estavam esquecidos, fossem restabelecidos.

Em 884 a.C., Cleóstenes de Pisa, Ífito de Elis e Licurgo de Esparta encontraram-se no vale de Olímpia – um território neutro – e estabeleceram o tratado celebrando os Jogos e a “trégua sagrada” entre as três cidades e posteriormente estendida a todo o país.

Proclamada a trégua, os “spondophores” ou arautos anunciavam os Jogos no norte da Grécia, nas ilhas, na Ásia Menor, no Egito e na Sicília.

“Olímpia é um lugar sagrado, quem lá ousar ingressar armado será culpado por sacrilégio.Também é sacrilégio quem não vingar tal ultraje se isto estiver ao seu alcance”.

Pacificamente, os Jogos se transformavam no símbolo da luta entre as cidades.

Alguns historiadores acreditam que os Jogos foram realizados a partir desta data, entretanto a primeira edição historicamente comprovada data de 776 a.C. O cozinheiro e padeiro Coroebus de Elis após vencer a prova do “stadion”, origem do nome estádio, com 192,27 metros, se sagrou o primeiro campeão olímpico da história.

Os primeiros campeões com fitas de lã amarradas no braço e na perna, recebiam apenas uma folha de palmeira e o “kótinos”, uma coroa de ramos de uma oliveira, plantada próxima ao altar de Zeus.

Posteriormente, os vencedores se tornavam famosos e recebiam de suas cidades benefícios para si e família, como ter toda alimentação paga por sua cidade pelo resto da vida, quantidade enorme de óleo de oliva (valiosíssimo), assentos na primeira fila do teatro, dispensa de pagar impostos e garantia de pensão vitalícia. Além disso, uma estátua era erguida em sua homenagem.

Curiosidade

A palavra “Olimpíada” significa o período de quatro anos decorrido entre a realização de dois Jogos Olímpicos consecutivos, no sistema grego de divisão de tempo. Essa maneira de controlar o tempo foi adotada por volta de 300 a.C., e aplicados para todos os eventos datados a partir de 776 a.C., a primeira Olimpíada conhecida. Olimpíadas ou Jogos Olímpicos é a maior competição esportiva mundial com a participação dos melhores atletas de todos os países do planeta.

A Lei dos Jogos

Os Jogos Olímpicos foram regidos rigorosamente pelas seguintes leis:

I. o atleta devia ser cidadão livre, nem escravo, nem estrangeiro;

II. o competidor não podia ter sido punido pela Justiça, nem ter moral duvidosa;

III. no prazo legal, o atleta devia se inscrever para o estágio no ginásio de Elis, cumprir o período de concentração, passar pelas provas de classificação e prestar o juramento;

IV. o competidor não podia atrasar. O retardatário era eliminado da competição;

V. as mulheres casadas eram proibidas de assistirem aos Jogos ou de subirem ao Altis (santuário em Olímpia) sob pena de serem atiradas do rochedo Typeu;

VI. durante os treinamentos e competições, os treinadores podiam permanecer nos recintos determinados;

VII. era proibido matar ou provocar voluntária ou involuntariamente a morte do adversário;

VIII. era proibido perseguir fora dos limites, empurrar o adversário ou praticar um comportamento desleal;

IX. era proibido amedrontar;

X. a corrupção de árbitro ou participante era punida com chicotadas;

XI. o competidor era proclamado vencedor quando seu adversário não comparecia;

XII. era proibido rebelar-se publicamente contra as decisões dos juízes;

XIII. o competidor descontente contra uma decisão dos árbitros podia recorrer ao Senado Olímpico. Os árbitros podiam ser punidos ou sua decisão anulada, se fosse considerada errada;

XIV. nenhum dos membros da arbitragem podia competir.

As punições eram aplicadas de acordo com a violação, enquadradas em quatro tipos:

Econômicas – exclusivas, acessórias ou substitutivas, e castigavam o infrator e sua cidade natal, provocando marginalização e vergonha.

Políticas – faltas de caráter bélico ou político impediam o atleta de participar dos Jogos. 

Esportivas – desclassificação do competidor que provocasse a morte do adversário ou se comportasse com deslealdade.

Corporais – punição para infrações de caráter dogmáticos, esportivos e pedagógicos. Neste item enquadravam-se faltas na Luta, Pugilato e Pancrácio, e saídas falsas nas corridas.

As mulheres casadas não podiam participar das disputas, entrar nos locais de competição e em Altis durante os Jogos, regra que não se aplica às virgens, que eram meninas, na Grécia, as moças se casavam aos 16 anos.

No ano de 404 a.C., durante a 94ª Olimpíada, Kallipatira entrou no estádio disfarçada de treinador e não contendo a alegria de ver o filho, Pstrodos, vencer no pugilato infantil, deixou a roupa cair, revelando-se. Por ser mãe, irmã e esposa de campeões olímpicos, foi poupada.

Olímpia

Crédito: Getty Images

Localizada na região da Élide, na península do Peloponeso, no meio do bosque Áltis, diante do Monte Cronos, entre as confluências dos rios Alfeu e Cladeu, Olímpia não era uma cidade, era um centro religioso e atlético da Grécia Antiga. Quem cuidava de Olímpia morava nas vilas e cidades vizinhas.

Na mitologia grega, foi em Olímpia que Zeus derrotou o seu pai Cronos. Referências arqueológicas de 2800 a.C., encontram vestígios de peregrinações de fiéis na região e desde o século X a.C., eram praticados esportes no local.

A partir de 776 a.C., durante o período Arcaico que marcou o “renascimento” grego, quando ocorreu a celebração da 1ª edição dos Jogos Olímpicos, o santuário passou a ter grande destaque na história grega.

No final do século VIII a.C., os pesatos, habitantes de Pisa que controlavam o santuário, construíram o Templo de Hera, esposa-irmã de Zeus, logo a rainha dos deuses.

Por volta de 576 a.C., sob controle dos eleatas, Olímpia se desenvolveu. No final do século VI a.C., o estádio contava com arquibancadas para até 40 mil espectadores, existiam os Thesóuros (salas para guardar-se presentes doados por reis, autoridades ou ricos senhores) e o Buleutério (local onde se reuniam conselheiros e oficiais de Estado).

No Período Clássico (entre 500-338 a.C.), quando os Jogos cresceram em importância (com a presença de reis, nobres, ricos mercadores, generais, artistas, filósofos, etc.), e tamanho (com cinco dias de competição), foram construídas várias stoa (corredor com várias colunas) e o Leonídio (Leonidaion), uma espécie de alojamento ou hotel de luxo, para abrigar visitantes ricos e ilustres.

Entre 336-146 a.C., no Período Helenístico, entre outras obras, foram erguidos um ginásio e a palestra (área aberta onde os atletas treinavam, geralmente ao lado do ginásio).

Os romanos ergueram novas casas de banho, termas, hospedarias para abrigar as pessoas de menor status social e o complexo chamado de Vila de Nero (o imperador apreciava os Jogos).

A última edição dos Jogos Olímpicos na Grécia Antiga ocorreu, antes do imperador Teodósio I, em 393 d.C., proibir todos os festivais pagãos. Em 426 a.C., o imperador ordenou a destruição do santuário. Nos anos 522 e 551 d.C., vários terremotos destruíram as ruínas do santuário.

Nos séculos posteriores, o transbordamento dos rios Alfios e Kladeos e os deslizamentos do Monte Cronos enterraram profundamente o santuário em lama e areia. Somente em 1766, o sítio foi redescoberto.

Crédito: Getty Images

O templo e a estátua de Zeus

Em estilo dórico, o templo de Zeus foi projetado por Líbon de Elis. Possuía seis colunas na fachada e treze de cada lado. Começou a ser construído 470 a.C. e terminou quase trinta anos depois.

Seu telhado continha uma abertura que iluminava o interior do local. Entre o telhado e as colunas, foram esculpidas e pintadas cenas que retratavam o herói Pélope em uma corrida de quadriga e os “Doze Trabalhos” de Héracles.

No interior, uma obra-prima, uma estátua para homenagear o rei dos deuses, a estátua de Zeus. Esculpida durante oito anos pelo ateniense Fídias, a estátua media entre 10 a 15 metros de altura por 7 metros de largura.

Seu corpo era de marfim, e a barba, cabelo e roupão eram compostos de ouro. A técnica utilizada na construção ficou conhecida como “chryselephantine” (ouro e marfim), onde as partes de bronze e marfim banhadas a ouro foram anexadas a um quadro de madeira. Os olhos eram de turquesa.

Zeus sentado no seu trono, segurava na mão direita a estatueta de Nike, a deusa da Vitória, e na mão esquerda uma esfera com um cedro sob o qual se debruçava.

Supõe-se que o Zeus de Fídias também tinha o cenho franzido. Conta à lenda que, quando Zeus franzia a testa, o Olimpo todo tremia.

Segundo o historiador bizantino Jorge Cedreno, a estátua foi translada para Constantinopla sem seu material precioso e destruída no grande incêndio do palácio de Lausus, no ano 475.

Devido a riqueza de detalhes e sua importância (era a estátua mais visitada pelos gregos), foi eleita uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.