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A história dos Jogos Olímpicos: Melbourne 1956

Para entrar no clima de Tokyo, conheça um pouco da história de edições passadas das Olimpíadas

Eduardo Colli Publicado em 20/07/2021, às 12h39

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Anéis olímpicos - Getty Images
Anéis olímpicos - Getty Images

1956 – XVI Jogos Olímpicos – Melbourne – Austrália

Melbourne

Abertura: 22.nov.1956 – Encerramento: 08.dez.1956

Abertura Oficial: Filipe, Duque de Edimburgo

Juramento dos Atletas: John Landy

Acendimento da Pira: Ron Clarke

Países Participantes: 67

Total de Atletas: 3155 Homens: 2791 – Mulheres: 364

Brasil (Atletas): 48 Homens: 47 – Mulheres: 1

Esportes: 18 – Eventos: 145

Hipismo em Estocolmo – Suécia

Abertura: 10.jun.1956 – Encerramento: 17.jun.1956

Abertura Oficial: Rei Gustavo VI Adolfo

Juramento dos Atletas: Henri Saint Cyr

Acendimento da Pira: Hans Wikne

Países Participantes: 29

Total de Atletas: 159 Homens: 147 – Mulheres: 12

Brasil (Atletas): 3 Homens: 3 – M: -

Esportes: 1 – Eventos: 6

Quadro geral de medalhas, os 5 primeiros colocados e o Brasil

No Congresso do COI em 1949, Melbourne venceu Buenos Aires por 21 votos a 20, e os Jogos iriam conhecer mais um continente, a Oceania, o terceiro da história.

Contra a longa viagem até a cidade, pesou o apoio australiano aos Jogos desde 1896. Motivado pelo ciúme dos moradores de Sydney e pela briga dos partidos políticos australianos, o novo presidente do COI, o americano Avery Brundage ameaçou levar os Jogos para Roma. Pouco a pouco as diferenças foram superadas e os problemas financeiros solucionados.

Entretanto, o governo australiano não renunciou à quarentena obrigatória para os cavalos estrangeiros, e depois de muitas discussões, as provas de Hipismo foram marcadas para Estocolmo (superou outras candidatas: Paris, Rio de Janeiro, Berlim e Los Angels) – e se realizaram de 10 a 17 de junho, com celebração das cerimônias de abertura e encerramento –, fato contrário ao espírito olímpico.

Enquanto isso, continuavam os problemas políticos. Uma guerra relâmpago ocorreu entre o Egito e Israel, e a União Soviética, menos de 2 meses antes do início dos Jogos, abafou à força o movimento popular húngaro a favor da democracia.

As grandes potências propuseram a realização dos Jogos sem a União Soviética, mas Brundage usando o mesmo cinismo de vinte anos antes, declarou: “o conceito das Olimpíadas é de uma competição entre indivíduos e não entre nações”.

Suíça, Holanda e Espanha não aceitaram as absurdas alegações de Brundage e não foram para Melbourne. Entretanto estavam presentes em Estocolmo.

Alegando que Israel invadiu o Canal de Suez. Egito, Iraque e Líbano também não levaram suas delegações para Melbourne.

Estádio Cricket Ground - Crédito / Wikimedia Commons

No dia 22 de novembro – sem a presença do presidente do COI –, no estádio Cricket Ground com seus 115.000 lugares totalmente tomados, desfilaram 3.184 atletas, representando 67 países.

Uma grande ovação saudou a delegação húngara e o silêncio recebeu os soviéticos.

Ron Clarke 1956 - Créditos / Getty Images

As tradicionais 16 palavras de abertura foram pronunciadas pelo príncipe de Edimburgo e o então campeão mundial, Ron Clarke acendeu a pira olímpica.

Os Jogos encerraram-se dia 8 de dezembro.

A medalha de 1956

Medalha de 1956 - Crédito / Wikimedia Commons

Medalha idêntica à medalha de 1928, exceto pela inscrição: "XVIth OLYMPIAD MELBOURNE 1956" (´XVI Olimpíadas MELBOURNE 1956´).

A medalha do hipismo

Medalha de Hipismo de 1956 - Crédito / Wikimedia Commons

Frente: um antigo cavaleiro e seu cavalo, o emblema dos Jogos Equestres em Estocolmo e a específica inscrição: "XVI OLYMPIAD ENS RYTTAR TAVLINGAR 1956 ESTOCOLMO" (´XVI Jogos Olímpicos 1956 Estocolmo’).

Verso: os anéis olímpicos com uma tocha sobreposta. No fundo, "OLYMΓIA" (ÓLÍMPIA`) e contornando o lema olímpico “CITIUS ALTIUS FORTIUS" e "JEUX OLYMPIQUES" (´JOGOS OLÍMPICOS´).

A medalha foi desenhada pelo sueco John Sjösvard, baseada no design do artista grego Vasos Falireas e aprovada pelo Comitê Olímpico Internacional.

Maiores medalhistas

AtletaPaísEsporteTotalOuroPrataBronze
Valentin MuratovUnião SoviéticaGinástica4310
Agnes KeletiHungriaGinástica6420

Destaques

Murray Rose, a base de algas e outros vegetais

O também australiano Murray Rose, de 17 anos, vegetariano convicto, que ficou conhecido na Vila Olímpica como “o alga marinha” por sua alimentação à base de algas e outros vegetais, ganhou em Melbourne três medalhas de ouro nos 400 e 1.500 metros e no Revezamento 4 x 100 metros livres, fazendo com que muitos australianos pensassem duas vezes sobre seus hábitos alimentares.

Nadar, levantar peso e talvez dormir

O australiano Jon Henricks - que desde Johnny Weissmuller foi o primeiro favorito a ganhar os 100 metros livres -, perguntado sobre o segredo de seu sucesso, respondeu: “Se você quer chegar ao topo, mergulhe e nade durante três, quatro ou cinco anos, com seu treinador gritando para você nadar nos intervalos para descanso. Não saia da piscina e não vá a festas até seu olhar transformar-se no de um zumbi. Você se casou com a piscina, entrando e saindo, entrando e saindo e novamente entrando e saindo. Quando você sai da piscina é hora de levantar peso ou talvez dormir. Enquanto isso seu treinador joga golfe ou pesca”.

Betty Cuthbert

Betty Cuthbert - Crédito / Getty Images

No feminino, o entusiasmo do público da Austrália foi com as façanhas de Betty “Babe” Cuthbert, que ganhou os 100, 200 e 4 x 100 metros, e de Shirley Strickland que ganhou pela segunda vez os 80 metros com barreiras.

As vitórias da australiana Elizabeth Cuthbert de 1952 até 1964

Ano                               Prova                                             Tempo                        Recorde

1956                          100 metros                                   11.5

1956                          200 metros                                   23.4

1956          Revezamento 4 x 100 metros           44.5                     Mundial / Olímpico

1964                          400 metros                                   52.0                           Olímpico

Dawn Fraser na piscina de espaguete

Dawn Fraser 1960 - Crédito / Wikimedia Commons

O trio australiano formado pelas nadadoras Dawn Fraser, Lorraine Crapp e Faith Leech foi respectivamente ouro, prata e bronze nos 100 metros livres. Dawn, que dedicou a vitória ao pai, em sua biografia escreveu que na noite anterior à final sonhou que nadava numa piscina de espaguete. 

Quatro anos depois, conquistou o bicampeonato nos 100 livres. Acusada de mau comportamento, por ordem da Federação Australiana não nadou o revezamento 4 x 100 metros medley.

Em outubro de 1962, Dawn Fraser tornou-se a primeira mulher a nadar os 100 metros peito em menos de 1 minuto. Um ano e meio depois baixou ainda mais sua marca.

Em março de 1964, bateu o carro ao voltar para casa após assistir um jogo de futebol. Sua mãe morreu, sua irmã ficou inconsciente e ela passou seis semanas com um colete no pescoço por causa de uma fissura na vértebra.

Sete meses depois, novamente em forma e com 27 anos então, Dawn venceu estabelecendo a até hoje inigualada marca de três vitórias consecutivas nos 100 metros livres feminino.

Mais tarde, escapou da Vila Olímpica à meia noite, roubou uma bandeira como souvenir do Palácio do Imperador, sendo suspensa pela Federação Australiana por dez anos.

Considerada uma heroína nacional, em 1990 Dawn, foi eleita deputada pelo Estado de New South Wales.

Tricampeonato da australiana Dawn Fraser nos 100 Metros Livres:

Ano                                Tempo                       Recorde

1956                              1:02.0                      Mundial / Olímpico

1960                              1:01.2                      Olímpico

1964                                59.5                        Olímpico

Larisa Latynina, a mulher com mais medalhas olímpicas da história

Larisa nasceu em Kherson na Ucrânia no dia 27 de dezembro de 1934 e iniciou sua carreira como bailarina.

Quando descobriu que o bale na dava medalha, ela mudou para a ginástica artística e foi treinar em Kiev. Na época, o solo era de madeira, depois colocaram um tapete muito fino; depois, entre o tapete e o solo, começaram a colocar uma tira para amortecer.

Aos 21 anos, estreou nos Jogos Melbourne da melhor forma possível, 4 medalhas de ouro e 6 no total.

Participou de duas edições seguintes e se sagrou tricampeã no solo e por equipes e bicampeã no individual geral. No total, ganhou 18 medalhas, sendo 9 de ouro.

Anos depois, ao ser perguntada se era uma heroína, com simplicidade respondeu: “eu nunca me senti como uma heroína. Para começar, eu só descobri que tinha o recorde de medalhas olímpicas em 1978. Até então, eu não sabia nada sobre heroísmo e lenda”, surpreso o repórter pergunto: “Como você descobriu?”, nova resposta singela: “trabalhei na organização dos Jogos de Moscou, em 1980, e recebi pelo correio uma cópia de um artigo publicado na Checoslováquia. Havia uma longa lista de atletas com medalhas olímpicas e vi que meu nome era o primeiro. O segundo era o de Paavo Nurmi e o terceiro Mark Spitz.”

Suas 9 medalhas de ouro da de 1956 até 1964:

Ano                     Prova                                    Pontuação

1956                  Equipes                                 444.800*

1956                Individual Geral                  74.933

1956                  Solo                                          18.733

1956               Salto sobre o Cavalo         18.833

1960                 Equipes                                382.320*

1960                Individual Geral                   77.031

1960                  Solo                                           19.583

1964                  Equipes                                  380.890*

1964                  Solo                                           19.599

* Total de pontos acumulados pela equipe da União Soviética.

O Primeiro Love Story: Olga Fikotova e Harold Connolly

Olga Fikotova e Harold Connolly 1960 - Crédito / Wikimedia Commons

No primeiro dia de provas a bela tcheca Olga Fikotova, estudante de Medicina, ganhou o ouro no arremesso do disco com 53,69 metros. No dia seguinte, o americano Harold Connoly com seus 100 quilos (tinha o braço esquerdo mais curto que o direito desde o nascimento) venceu a prova do arremesso do martelo com 63,19 metros.

Os dois conheceram-se nos treinos, apaixonaram-se e proporcionaram um “love story” que comoveu o mundo. O fato por si só não era inédito, pois em 1952 a nadadora húngara Eva Novak (1 ouro e 2 prata) casara-se secretamente com um repórter belga.

No entanto, o romance causou sensação pois, em plena Guerra Fria, um capitalista e uma comunista desejavam se casar, com toda a imprensa noticiando o fato e as dificuldades de Harold em obter o visto de entrada na Tchecoslováquia, só conseguido graças à interferência de embaixadores e presidentes dos dois países.

Finalmente casaram-se em Praga com a presença do casal Zátopek como padrinhos. Na verdade, foram realizadas três cerimônias: a civil, a católica e a protestante, segundo a religião de cada um dos nubentes.

Moraram juntos em Boston por 16 anos, tiveram 4 filhos e separaram-se. Ela tornou-se membro do movimento feminista e ele casou-se novamente.

Enfim campeão: Alain Mimoun

Alain Mimoun - Crédito / Getty Images 

Na Maratona, Emil Zatopek – que havia batizado sua primeira filha com o nome de Olímpia - partiu como favorito e levando consigo sua eterna sombra, o francês Mimoun, tentou abrir uma vantagem tática em relação aos outros concorrentes.

Como não estava suficientemente forte para isto, no quilômetro 20, Mimoun - que corria com o número 13 para dar sorte - e o americano Kelly assumiram a liderança.

A partir da metade da prova o francês foi sozinho à frente vencendo com 1 minuto e 36 segundos de vantagem sobre o iugoslavo Franjo Mihalic.

Quatro minutos e meio depois Zátopek cruzou na sexta colocação. Era sua última participação em Jogos Olímpicos.

Ao saber da vitória de Mimoun, que por três vezes chegara atrás dele em provas anteriores, Zátopek afirmou: “estou feliz com sua vitória, era justo que chegasse seu dia”.

Mais tarde Mimoun, que aos setenta anos ainda corria 20 quilômetros por dia, foi nomeado oficial da Legião de Honra da França pelo presidente Pompidou, emprestando seu nome para cinco ruas em cinco cidades francesas e uma vila na sua cidade natal.

Água e Sangue: Hungria x URSS

Em 4 de novembro de 1956 duzentos mil soldados soviéticos invadiram a Hungria, abafando, pela força, a maior revolta dos países da antiga cortina de ferro contra o comunismo e o domínio da União Soviética. Com isto, o sentimento amargo de luta entre húngaros e soviéticos foi carregado para os Jogos, realizados três semanas depois.

As hostilidades culminaram na partida de Pólo Aquático disputada entre os dois países em 6 de dezembro. O jogo rapidamente se transformou numa batalha quando o placar apontava 4 a 0 para a Hungria, que venceu, e a polícia precisou ser chamada para prevenir possíveis agressões por parte dos 5.500 espectadores com os ânimos exaltados contra os soviéticos.

Após o torneio - no qual sagrou-se campeã - a Hungria perdeu metade da equipe, que solicitara asilo político, não retornando mais ao seu país.

Performance de vitórias do sueco Henri Saint Cyr de 1948 até 1956:

Ano                                Prova                                                         Cavalo                  Total de Pontos

1948           Adestramento por Equipes                             Djimm                       444,50

1952           Adestramento por Equipes                       Master Rufus               561

1952           Adestramento Individual                           Master Rufus               561

1956           Adestramento por Equipes                             Juli                              860

1956           Adestramento Individual                                 Juli                              860

Mister Universo: Tommy Kono

Criança doente de asma, filho de pais japoneses, o americano Tamio “Tommy” Kono, recebeu grande quantidade de medicamento e simpatias de origem oriental durante o tratamento, cresceu muito e adquiriu muita força.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ele e seus pais foram presos em um campo de concentração em Sacramento, na Califórnia.

Aos 14 anos de idade, iniciou-se no Levantamento de Peso. Dotado de grande

facilidade para ganhar (comia 6 refeições por dia) ou perder (apenas 3 refeições por dia) peso, Kono conquistou 2 medalhas de ouro (em 1952 na categoria até 67,5kg e em 1956 na categoria até 82,5kg) e 1 de prata (em 1960 para peso até 75kg).

Em 1954, ele ganhou o título de “Mister Mundo” e em 1955 e 1957 o de “Mister Universo”. Outro talento de Kono era a força do seu “controle mental”, excelente habilidade complementar para este esporte.

Luvas Douradas: Lazlo Papp

O húngaro László Papp que ganhou a medalha de ouro na categoria médio em Londres e depois venceria e ligeiro quando venceu o americano José Torres que se tornaria boxeador profissional, e campeão mundial em 1965.

Após os Jogos, aos 31 anos László obteve permissão do governo de seu país para se tornar o primeiro boxeador profissional de um país comunista.

Conquistou o título Europeu, o governo da Hungria voltou atrás e ele não pôde lutar pelo título mundial.