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Testeira

A história dos Jogos Olímpicos: Helsinki 1952

Para entrar no clima de Tokyo, conheça um pouco da história de edições passadas das Olimpíadas

Eduardo Colli Publicado em 20/07/2021, às 10h16

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Anéis olímpicos - Getty Images
Anéis olímpicos - Getty Images

1952 – XV Jogos Olímpicos – Helsinki - Finlândia

Abertura: 19.jul.1952 – Encerramento: 03.ago.1952

Abertura Oficial: Presidente Juho Paasikivi

Juramento dos Atletas: Heikki Savolainen

Acendimento da Pira: Paavo Nurmi e Hannes Kolehmainen

Países Participantes: 69

Total de Atletas: 4955 Homens: 4436 – Mulheres: 519

Brasil (Atletas): 108 - Homens: 103 – Mulheres: 5

Esportes: 19 - Eventos: 149

Quadro geral de medalhas, os 5 primeiros colocados e o Brasil

Vencendo as outras cidades interessadas em sediar: Amsterdã, Los Angeles, Minneapolis, Detroit, Chicago e Philadelphia. Com cinco anos de antecedência Helsinki foi escolhida para os Jogos de 1952.

Contudo a grande atração foi a primeira participação da União Soviética – a última participação da Rússia ocorreu em 1912 –, em momento especial no cenário mundial, o auge da chamada “guerra fria”, conflito diplomático e de espionagem entre os soviéticos e os norte-americanos.

A única guerra real era a da Coréia que partiu o país ao meio, em Sul e Norte.

Os soviéticos logo perceberam o poder de propaganda dos Jogos e tomaram exageradas precauções. Não aceitaram o alojamento na Vila Olímpica – com 14 prédios e construída no bairro de Käpylaä – e ficaram a oito quilômetros da cidade, em um lugar totalmente seguro e isolado.

A pira olímpica foi levada de Atenas a Copenhague de avião, de onde iniciou um revezamento com trechos a pé, de barco a remo e a vela, e de trem e foi levada para Molmoe. Em território sueco, foi carregada de moto e bicicleta até a fronteira com a Finlândia, local de uma curiosa cerimônia, o fogo grego ao sol da meia-noite.

Dias antes do início dos Jogos, demonstrando toda sua independência Sigfrid Edstroem se demitiu, e o norte-americano Avery Brundage assumiu a presidência do COI, que já nos seus primeiros atos permitiu que os soviéticos utilizassem atletas da Bielorrússia e Ucrânia, que nesta época eram consideradas pela ONU autônomas e detinham cadeira no plenário.

Sete anos após o final da Segunda Guerra Mundial, o Japão e a agora denominada República Federal da Alemanha – parte ocidental da dividida Alemanha – retornaram aos Jogos. O COI impediu que a República Democrática da Alemanha – parte oriental e comunista – participasse.

Em resposta à participação da China Comunista, Taiwan – denominada China Nacionalista – uma divergência ao regime comunista de Pequim, situada em uma ilha, retirou-se dos Jogos.

Entretanto, ao tomar conhecimento que a União Soviética iria para os Jogos, os chineses também se retiraram, sinais de que a política começava a incomodar, e muito, os ideais olímpicos.

Os finlandeses homenagearam com uma estátua, a maior já erguida para um campeão olímpico, a Paavo Nurmi, seu maior campeão olímpico, estampando sua imagem no pôster oficial e escolhendo-o para entrar com a tocha olímpica no estádio, e assim vingaram-no da proibição que lhe fez o COI, acusando-o de profissionalismo e impedindo-o de participar dos Jogos Olímpicos.

Nurmi acendeu a primeira pira, colocada no estádio e a entregou para o velho Hannes Kolehmainen - herói dos Jogos de 1912 – que acendeu a segunda pira olímpica (em honra aos Jogos de 1940 que não foram realizados), colocada na torre com 72,71 metros – marca obtida por Matti Järvinen na sua vitória no arremesso de dardo em Berlim.

Os Jogos realizados de 19 de julho até 3 de agosto de 1952 foram disputados por 4.955 atletas de 69 nações.

A medalha de 1952

Medalha Olímpica de 1952  - Créditos / Wikimedia Commons

Medalha idêntica à medalha de 1928, exceto pela inscrição: "XV OLYMPIA HELSINKI 1952". (´XV Olimpíadas HELSINKI 1952´).

Maiores medalhistas

AtletaPaísEsporteTotalOuroPrataBronze
Viktor ChukarinUnião SoviéticaGinástica6420
Maria GorokhovskayaUnião SoviéticaGinástica7250

Destaques

Emil Zátopek a locomotiva humana

O tcheco Emil Zátopek debutou em Londres – 1948 e vendeu os 10 mil metros com 48 segundos de vantagem sobre o francês Alain Mimoun. Nesta prova, a superioridade da “Locomotiva Humana”, como era chamado, foi tão grande que os juízes se perderam na contagem das voltas de quase todos os competidores, anunciando apenas os seis primeiros colocados.

Helsinki foi o placo do grande show de Emil Zátopek, que na época já era comandante do exército checo.

Ganhou inicialmente os 10.000m com 15 segundos de vantagem sobre o francês Mimoun.

Nos 5.000 metros, após uma largada falsa - fato raro neste tipo de prova e que contou com todos os grandes fundistas da época -, o alemão Herbert Schade, correndo de óculos, liderou até a marca de 2.500 metros, quando o belga Reiff (que desistiria logo mais, ao faltar apenas duas voltas para a final) tomou a iniciativa e, na companhia de Emil, que tinha uma dívida a saldar para com ele (ouro 4 anos antes), assumem a liderança.

Emil Zátopek - Crédito / Wikimedia Commons

Faltando 50 metros para a chegada, e com quatro corredores brigando pela ponta, o britânico Christopher Chataway tropeça e cai. Emil, com suas últimas forças, aproveita-se e, com sua costumeira expressão de sofrimento, ganha a medalha de ouro, com Mimoun em segundo e Schade em terceiro.

Alegria em dobro naquela tarde pois sua esposa Dana Zátopek lançou o Dardo a 50,47 metros vencendo as 3 favoritas soviéticas. Além de casados e de terem obtido medalhas de ouro na mesma tarde, os dois nasceram na mesma data, 22 de setembro de 1922.

Três dias depois, Emil - que em seus treinos corria 30 quilômetros diários - pela primeira vez participou da Maratona. Partiu com precaução, muito tranquilamente, com gestos e feições normais. Após ter passado a metade da prova praticamente escondido, juntou-se ao sueco Gustav Jansson no quilômetro 30, acelerou e iniciou sua triunfal chegada ao estádio. Recebido com entusiasmo pelo público, com 2 minutos e meio de vantagem sobre o argentino Reinaldo Gorno, Emil conquistou de forma inédita sua terceira medalha de ouro.

Ao voltar para seu país, Zátopek foi promovido a coronel, mas sofreu uma perseguição dos soviéticos devido à sua participação na “Primavera de Praga”.

Vitórias do checo Emil Zátopek nos Jogos Olímpicos de 1948 até 1952

Ano                          Prova                        Tempo                        Recorde

1948                10.000 metros           29:59.6                      Olímpico

1952                   5.000 metros           14:06.6                      Olímpico

1952                 10.000 metros          29:17.0                      Olímpico

1952                    Maratona                2:23:03.2                    Olímpico

O primeiro grande campeão olímpico brasileiro: Ademar Ferreira da Silva

Ademar Ferreira da Silva - Crédito / Wikimedia Commons

Ademar já era o recordista mundial, com a marca de 16,01 metros, quando chegou a Helsinki.

Na disputa da final do Salto Triplo ele quebrou seu recorde simplesmente quatro vezes em seis tentativas, melhorou o recorde em 21 centímetros, conquistou a primeira medalha de ouro brasileira no Atletismo e tornou-se o maior atleta brasileiro de todos os tempos.

Em 1956, ele conseguiu o bicampeonato. Dois anos depois, ele chamou atenção novamente ao interpretar o papel da morte no filme “Orfeu do Carnaval”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, 1959.

Predestinado a Vencer: Lindy Remigino

O “mais inesperado vencedor de todos os tempos”, assim foi chamado o americano de origem italiana Lindy Remigino.

Após ter sido o sexto colocado nas seletivas americanas, Lindy chegou a Helsinki como integrante da equipe do Revezamento 4 x 100 metros rasos, sendo beneficiado por uma séries de lesões de outros corredores e passando a ser o terceiro homem nos 100 e 200 metros.

Chegou com dificuldade à final dos 100m, a qual venceu no photo-finish, após cruzar o ombro à frente do jamaicano Herbert McKinley. Podemos afirmar que nem antes, nem depois, Lindy conseguiu vencer outra prova tão importante. Exceção do revezamento 4 x 100m.

Perto de Deus

Em sua primeira participação nos Jogos, os soviéticos não falaram com ninguém durante dois dias até que o pastor protestante e doutor em Teologia, o americano Robert Richard, na prova do Salto com Vara, conseguiu alterar a situação na final que reuniu 9 atletas, 3 deles americanos e 3 soviéticos.

Em plena batalha, o soviético Piotr Denissenko saltou 4,20 metros, quando Robert, quebrando o gelo, saudou-o.

Depois disso, os soviéticos aplaudiram e foram aplaudidos pelos rivais, sendo os primeiros a abraçar Robert por sua vitória.

Além de aproximar nações rivais, Robert marcou com a seguinte frase: “sou o único sacerdote do mundo que tenta chegar aos céus por seus próprios meios”. Quatro anos depois, em Melbourne, ele chegou um pouco mais perto ao vencer novamente.

Quatro anos depois, o pastor Richard ganhou o bicampeonato e desistiu do atletismo por não ser possível conciliar a pregação de sacerdote com as constantes viagens e fama.

A Máquina: Hungria

Seleção Olímpica da Hungria de 1952 - Créditos / Wikimedia Commons

A Hungria, maior seleção de futebol do Jogos Olímpicos de todos os tempos, iniciou a caminhada rumo a medalha de ouro com uma magra vitória de 2 a 1 sobre a Romênia.

Em seguida encontrou todo o seu futebol, venceu a Itália por 3 a 0, goleou a Turquia por 7 a 1, a Suécia por 6 a 0 e na final com gols de Ferenc Puskas e Zoltan Czibor venceu a Iugoslávia por 2 a 0. Além dos dois goleadores acima, completavam o super esquadrão de craques o técnico centroavante Nandor Hidegkuti, o exímio cabeceador Sandor Kocsis e o inteligente médio Joszef Bosik.

A campanha húngara é a melhor até hoje, venceu todos os cinco jogos, marcou 22 gols e sofreu apenas 2.

Em 1954, esta mesma Hungria maravilhou o mundo na Copa do Mundo da Suíça e por um destes caprichos dos “Deuses do Futebol”, perdeu o título na final para a Alemanha por 3 a 2.

No jogo da primeira fase entre as duas seleções, vitória dos húngaros por 8 a 3. Após a Copa, Puskas transferiu-se para o Real Madrid, no qual realizou uma excepcional carreira e foi um dos artificies de uma das maiores equipes de futebol de todos os tempos, enquanto seus companheiros Kocsis e Czibor foram para o Barcelona.

Campanha da Hungria na conquista da medalha de ouro

Jogos         Vitórias             Derrotas             Empates         Gols a favor         Gols contra       Saldo de gols

  5                       5                               0                             0                          20                                 2                                 18

Na água com papai

Jean Boiteux com seu pai - Crédito / Wikimedia Commons

Nos 400 livres, a vitória do francês Jean Boiteux sobre o americano Ford Konno foi tão difícil e surpreendente que, após a prova, um senhor de idade jogou-se na piscina para abraçá-lo.

Ao ser perguntado em várias línguas se era seu treinador ou empresário, ele respondeu apenas “Papa!”.