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A história dos Jogos Olímpicos: Cidade do México 1968

Para entrar no clima de Tokyo, conheça um pouco da história de edições passadas das Olimpíadas

Eduardo Colli Publicado em 22/07/2021, às 12h22

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Anéis olímpicos - Getty Images
Anéis olímpicos - Getty Images

1968 – XIX Jogos Olímpicos – Cidade do México - México

Abertura: 12.out.1968 – Encerramento: 27.out.1968

Abertura Oficial: Presidente Gustavo Diaz Ordaz

Juramento dos Atletas: Pablo Lugo Garrido

Acendimento da Pira: Norma Enriqueta Basilio de Sotelo

Países Participantes: 112

Total de Atletas: 5516 Homens: 4735 – Mulheres: 781

Brasil (Atletas): 84 Homens: 81 – Mulheres: 3

Esportes: 20 – Eventos: 172

Quadro geral de medalhas, os 5 primeiros colocados e o Brasil

Em 1963, depois de vencer uma acirrada disputa contra três outras cidades: Detroit, Lyon e Buenos Aires, a Cidade do México foi eleita para sediar os Jogos de 1968.

Os Jogos por duas vezes quase foram cancelados. A primeira ocorreu nos dias 20 e 21 de agosto, quando a União Soviética sufocou a “Primavera de Praga”, movimento pró-democracia na Tchecoslováquia.

Outro grande e marcante episódio, desta vez interno, aconteceu dia 2 de outubro - faltando 10 dias para a abertura -, quando o exército mexicano disparou contra um protesto estudantil na praça das Três Culturas.

O número de vítimas nunca foi informado pelo governo; extraoficialmente, calcula-se, mais de trezentos. Ao comentar o fato, o presidente Brundage mais uma vez demonstrou todo seu cinismo: “a Cidade do México é uma enorme metrópole com seis milhões de habitantes e nenhuma demonstração ou cena de violência aqui produzida é dirigida contra os Jogos”.

Em cima da hora, o Estádio Olímpico foi construído com rochas vulcânicas na Cidade Universitária, para abrigar 80.000 pessoas, ficou pronto.

Espetacular e moderníssimo era o Palácio dos Esportes com 22.000 lugares. Próximo dali, foram levantados o velódromo e a piscina.

Aproveitou-se a Arena México para o Boxe, o Auditório Nacional para a Ginástica e o Estádio Azteca para o Futebol. O Remo e a Canoagem foram disputados no canal de Xochimilco e a Vela na famosa Acapulco.

A título de demonstração disputaram-se os torneios da Pelota Basca.

No sábado, dia 12 de outubro, o presidente Díaz Ordaz declarou abertos os Jogos e a bandeira olímpica desfilou ao som da música “La Sandunga” executada por um mariachi. A maior surpresa ficou por conta de Enriqueta Basilio, a primeira mulher a acender a pira olímpica.

Mesmo vencendo as dramáticas e pessimistas previsões contra o efeito da altitude, a Cidade do México localizada a 2.240 metros de altura, entrou para a história como a cidade olímpica com maior número de recordes mundiais do Atletismo, quatorze.

No dia 27 de outubro, todo o estádio cantou “La Golondrina”, encerrando os primeiros Jogos disputados em um país latino-americano.

A medalha de 1968

Medalha olímpica de 1968 - Créditos / Wikimedia Commons

Medalha idêntica à medalha de 1928, exceto pela inscrição: "XIX OLIMPIADA MEXICO 1968" (´XIX Olimpíadas MÉXICO 1968´) e que as medalhas eram conectadas a uma placa com o pictograma do esporte.

Maiores medalhistas

AtletaPaísEsporteTotalOuroPrataBronze
Akinori NakayamaJapãoGinástica6411
Vera CáslasvskaTchecoslóvaquiaGinástica6420

Destaques

Protesto Especial: Black Power

Na Vila Olímpica os negros e alguns brancos da equipe desfilaram com camisetas e bonés com o slogan “Projeto olímpico para os direitos humanos”. A verdade era que, tanto nas seletivas como durante a concentração, vários atletas componentes do Black Power (Poder Negro) estudaram a possibilidade de boicotar os Jogos mas

prevaleceu a tese de primeiro vencer e depois protestar, o que, afinal, se mostrou mais eficiente.

O assassinato de Martin Luther King, alguns meses antes, recrudesceu a guerra entre a Ku-Klux-Klan e os Panteras Negras, influenciando também o Black Power - que não era um grupo extremista. Seus integrantes estavam, de fato, fartos da discriminação que sofriam. John Carlos, um dos líderes do grupo, resumiu o problema da seguinte forma: “se venço sou um americano, não um americano negro, mas se perco, então me chamam somente de negro”.

No segundo dia de provas começou o que logo seria tratado como escândalo. Todos os presentes ao estádio consideraram pitoresco o fato de três medalhistas dos 400m rasos, subirem ao pódio descalços e com reluzentes meias pretas.

Entretanto, vinte e quatro horas depois começaram os protestos que marcaram para sempre os Jogos do México. Primeiro foi na espetacular final dos 100 metros, vencida por Jim Hines com 9.9 e apenas 1 décimo de segundo à frente do jamaicano Lennox Miller e do americano Charles Greene. Hines, que era bastante pobre, estava a ponto de transformar-se em jogador profissional de futebol americano antes dos Jogos, mas foi convencido pelo antigo campeão Bobby Morrow em aguardar até o México e, só depois, assinar contrato com o Miami Dolphins, time americano.

Passando quase desapercebido no pódio dos 100 metros - pela primeira vez disputado por oito negros – e explodindo depois nos 200 metros, Tommie Smith realizou uma prova prodigiosa, marcando 19.9 segundos e surpreendendo a uma marca ainda melhor se não tivesse aberto os braços antes da linha de chegada.

John Carlos, Tommie Smith e Peter Norman - Créditos /Wikimedia Commons

A cerimônia de premiação foi espetacular, com Tommie e John surgindo com boinas pretas, luva preta na mão direita, meias da mesma cor e as sapatilhas nas mãos. No momento em que o hino americano foi executado eles levantaram os punhos fechados para o céu, em sinal de protesto. No dia seguinte, os dois foram excluídos da equipe e expulsos da Vila Olímpica.

Naquela tarde Lee Evans tinha que correr a final dos 400 metros. Ameaçando abandonar a prova, foi convencido a ficar e ganhar. Ele não somente ganhou como também estabeleceu a incrível marca de 43.8 segundos - que durou quase 20 anos -, com os irmãos de raça Larry James e Ronald Freeman em segundo e terceiro, respectivamente.

Sem temor de expulsão, os três repetiram a mesma cena de Tommie e John, entretanto, desta vez, os dirigentes não se atreveram a puni-los, entre outros motivos, porque os três e Matthews deveriam disputar o revezamento 4 x 400.

Como os responsáveis pela equipe americana não queriam perder a medalha de ouro nesta prova, suportaram nova manifestação do Black Power, que atraiu outros atletas, porém de forma mais branda. Bob Beamon e Ralph Boston, ouro e bronze no Salto em Distância, subiram descalços ao pódio com as meias pretas em destaque, é claro.

Os eternos Bob Beamon e Dick Fosbury

As provas de Salto em Distância e Altura obtiveram grandes repercusões por distintas razões. A data de 18 de todos, inclusive seu companheiro e líder John Carlos, que foi bronze. Tommie poderia ter estabelecido outubro entrou para a história como o dia em que Bob Beamon voou 8,90 metros.

Durante quase 23 anos julgou-se que seu salto era o “recorde do Século XXI”, mas em agosto de 1991, entretanto, Mike Powell superou a marca em 5 centímetros. O fenomenal feito de Beamon ocorreu no início da etapa final, disputada à tarde. Na sua primeira tentativa ele pousou só depois do aparelho de medição. Os juízes começaram a discutir nervosamente a magnitude da façanha, que não podia ser aferida pelos equipamentos eletrônicos e, sendo medida com a trena várias vezes, demonstrou os assombrosos 8,90 metros que superou em 55 centímetros a marca anterior.

Como a velocidade do vento soprando a favor de Beamon era de exatos 2 metros por segundo, medida máxima permitida, o recorde foi homologado.

Depois dos Jogos ele tornou-se profissional de Atletismo, passando de fracasso em fracasso, nunca mais chegando perto do seu recorde. Retirou-se do esporte, tocou bongô numa orquestra, foi abandonado por sua mulher e, posteriormente, ganhou a vida como palestrante.

O segundo saltador que fez história foi Dick Fosbury, inventor da revolucionária técnica para o salto em altura utilizada até hoje. Fosbury, que nasceu no Oregon, mas devido a uma enfermidade alérgica foi morar em Idaho (EUA), explicou que havia inventado seu método por casualidade aos 11 anos de idade. Seu salto assombrou o estádio, sendo até chamado de louco e excêntrico. Dick conseguiu 2,24 metros e a medalha de ouro, deixando o recordista mundial - que usava a técnica de rolamento frontal - Valery Brumel, em segundo.

Na coletiva de imprensa, Fosbury surpreendeu novamente ao afirmar que estava se retirando do esporte para dedicar-se ao curso de Engenharia. Mais tarde confessou os verdadeiros motivos: “não estava preparado para o triunfo; não queria competir mais para não fazer um papel ridículo”. Seu estilo foi batizado merecidamente de “Fosbory Flop”.

A Rainha dos Jogos: Vera Cáslavská

Vera Cáslavská 1968 - Créditos / Wikimedia Commons

Destaque em Tóquio – 1964, a tcheca Vera Cáslavská, secretária em Praga, aos 22 anos ganhou quatro medalhas: três de ouro e uma de prata, sendo que a mais importante no individual geral.

Em 1968, a heroína dos Jogos foi Vera Cáslavská. Em abril de 1968 ela assinou o “Manifesto das 2.000 Palavras” contra a influência soviética em seu país após a “Primavera de Praga”. Escondendo-se na pequena cidade de Sumperk, três semanas depois foi reconduzida à equipe olímpica da Tchecoslováquia.

Na Cidade do México, Vera foi aclamada pelo público mexicano e respondeu a acolhida usando como tema no Solo “A Dança do Sombreiro Mexicano”: ganhou mais quatro medalhas de ouro e duas de prata, totalizando dez medalhas em sua carreira.

Durante a cerimônia de premiação do Solo, ao subir no pódio com a soviética Larissa Petrik com quem empatou no segundo lugar, Vera posicionou-se de maneira patriótica ao ouvir o hino de seu país, mas virou o rosto para o hino soviético numa atitude de protesto, não punida pelo COI.

As 7 vitórias da tcheca Vera Cáslavská de 1964 e 1968:

Ano                                    Prova                        Pontuação

1964                    Individual Geral                 77.564

1964               Salto sobre o Cavalo           19.483

1964                             Trave                              19.449

1968                   Individual Geral                 78.25

1968              Salto sobre o Cavalo            19.775

1968             Barras Assimétricas              19.65

1968                             Solo                                 19.675

Discreto Al Oerter se tornou tetracampeão

Al Oerter - Créditos / Wikimedia Commons

Pesando 123 quilos, mesmo assim ganhando pela quarta vez consecutiva no Arremesso de Disco.

Tetracampeonato do americano Alfred “Al” Oerter no Arremesso do Disco

Ano                 Distância              Recorde

1956               56,36 m                Olímpico

1960               59,18 m                Olímpico

1964               61,00 m                Olímpico

1968               64,78 m                Olímpico

A grande decepção: Mark Spitz

Antes dos Jogos, Douglas Russell e Mark Spitz, dos Estados Unidos, se enfrentaram várias vezes. O resultado era sempre o mesmo: Russell liderando desde o início e Spitz, com uma forte arrancada, vencendo.

Desta vez os dois secretamente decidiram mudar a tática e o que aconteceu foi a liderança de Spitz e a vitória de Russell nos 100 metros borboleta.

Com cinco de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1967, Mark Spitz afirmou que iria ganhar seis medalhas de ouro na Olimpíada do México, mas, apesar de conquistar duas de ouro nos Revezamentos, falhou em todas as provas individuais, levando apenas uma prata e um bronze.

Na final dos 200m borboleta, um decepcionante último lugar. Enquanto isso o compatriota de Spitz, Carl Robie, que há quatro anos havia perdido o ouro, bateu o britânico Martin Woodroffe e sagrou-se campeão.