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NBA/Basquete / EXCLUSIVO

Rachão Basquete Feminino promove a ocupação de mulheres em quadras públicas de São Paulo

Conheça o movimento que cria identificação entre mulheres que querem jogar um basquete descontraído

Gabriela Santos Publicado em 30/06/2020, às 13h00 - Atualizado às 15h00

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Rachão Basquete Feminino em um dos encontros pelas quadras públicas de São Paulo - Arquivo Pessoal
Rachão Basquete Feminino em um dos encontros pelas quadras públicas de São Paulo - Arquivo Pessoal

Fundado há seis anos, o Rachão Basquete Feminino surgiu pela sensibilidade de não ter mulheres utilizando os espaços públicos de São Paulo. Ellen Valias, Priscila Regina, Aline Inocêncio e Roberta Magalhães estão à frente do movimento que promove a ocupação de mulheres nas quadras públicas da cidade.

O ponto inicial do Rachão era fazer mulheres de todas as idades compreenderem o direito delas de ocupar os espaços públicos de São Paulo, criando identificação para quem queria jogar, mas não se sentia à vontade. Com exclusividade ao SportBuzz, as responsáveis pelo movimento falaram sobre resistência, vivência e representatividade dentro do Rachão. 

“O Rachão se formou, na verdade, com alguns movimentos que pulsaram na cidade. Foi uma união de ideias de mulheres que viram a demanda, que foi: por que as mulheres não estão utilizando o parque público para praticar as atividades físicas que elas gostam? Por que elas não conseguem identificar também como um espaço delas?”, disse a educadora física e coordenadora de projeto social, Priscila Regina, de 37 anos.

Com encontros marcados em todos os últimos domingos do mês, o Rachão Basquete Feminino reúne de 30 a 70 mulheres ao longo do dia. Em grupo de aplicativo de conversa são cerca de 300 participantes - incluindo integrantes de outros estados e países - para o movimento acontecer e conectar mais a rede do Rachão.

Apesar de ter representantes, o Rachão Basquete independe da quantidade de meninas dentro de quadra para ser possível. Uma única mulher ocupando um espaço para jogar basquete já representa o movimento que defende o direito de jogar. 

“Se tiver uma menina na quadra, ela tem que ter o direito de jogar. Então, reforçamos sempre para proporcionar isso. Uma, dez, vinte, cem..., quanto mais meninas, melhor. Mas se tiver uma, ela tem que ter o direito de estar lá e ocupar aquele espaço. Sempre falamos que mesmo que não seja a data (do encontro) do Rachão, elas devem estar lá ocupando o espaço. A organização não precisa estar para o Rachão acontecer”, explicou a assistente de educação e cultura, Roberta Magalhães, de 30 anos. 

O processo de ocupação das quadras não é fácil. Por muitas vezes, o grupo enfrenta o machismo e, nas ocasiões, o diálogo ganha espaço pela resistência dentro das quadras. O objetivo do Rachão é dar o primeiro passo para que a ocupação dos espaços públicos seja real, mesmo que isso aconteça após um afronte.

Criado pela diversão de jogar basquete, o Rachão é um ambiente inclusivo e democrático para mulheres de todas idades e corpos, que não precisam ter habilidades no esporte. A única regra é querer jogar. Elas trabalham para desmistificar isso, uma vez que um homem que não sabe jogar é bem acolhido nas quadras, enquanto a mulher, não.

Se antes a ideia inicial era atender uma demanda, hoje o movimento é mais do que entrar na quadra. Ele representa a libertação de muitas meninas que enfrentam a depressão, ansiedade e relacionamento abusivo, por exemplo. Ellen Valias, de 38 anos, uma das idealizadoras do Rachão, classifica o movimento como uma ferramenta de fortalecimento das mulheres.

“O Rachão começou simplesmente para mulheres se encontrarem para jogar basquete. No entanto, percebemos que era mais do que isso. Não era jogar basquete por jogar. Aprendemos ao longo do tempo que o basquete era uma ferramenta para conseguir fazer muitas outras coisas juntas. São meninas que passam por depressão, ansiedade, relacionamento abusivo. É uma resistência e vivência. De estar ali e através do espaço se sentir fortalecida, com todas as mulheres juntas, e conseguir passar isso para a vivência do dia a dia e dentro da quadra, ocupando os espaços. Temos muito o que aprender ainda, de como fazer para nos fortalecer como Rachão e como mulheres”, declarou Ellen, que trabalha como captadora de recursos.

Para a personal trainer e instrutora de yoga Aline Inocêncio, de 28 anos, o Rachão se fez presente quando ela saiu de um relacionamento abusivo. 

“Quando eu conheci o Rachão, eu sempre tive vontade de ir, mas nunca houve oportunidade porque eu estava em um relacionamento abusivo. E para não brigar, eu não ia aos encontros. E quando eu terminei esse relacionamento eu falei: ‘Acordei!’. E então minha amiga me levou no encontro (do Rachão) e eu vi todas aquelas mulheres em quadra eu tive uma sensação incrível. E depois desse dia nunca mais saí do parque”, disse Aline.

O ganho do Rachão é ocupar as quadras da cidade, que em sua maioria são lotadas por homens. O movimento deve circular e as mulheres precisam fazer ele acontecer. Passos importantes foram dados nesses seis anos, colaborando para que mulheres entendam o próprio direito delas. Para o futuro do basquete, são muitos sonhos.

“Espero que tenha investimento na base, nas escolas. Precisamos acreditar que o esporte é a nossa maior arma de mudança social. Eu vejo o Rachão como uma porta para abrir essa discussão. Já entramos em muitos espaços que não eram abertos para o basquete feminino. Vejo muito esse potencial no Rachão”, disse Roberta.

“O Rachão vai interferir no basquete de alto rendimento. Quanto mais mulheres participarem, mais visibilidade vai conseguir. O basquete de rua deixa que o de alto rendimento não morra”, concluiu Aline Inocêncio.

Rachão Basquete Feminino em um dos encontros pelas quadras públicas de São Paulo (Crédito: Arquivo Pessoal)

*A entrevista na íntegra também está disponível nas plataformas de podcast do SportBuzz.

OUTRAS RESPOSTAS

O que o Rachão defende?

O Rachão Basquete Feminino defende que toda mulher tem o direito de estar na quadra de basquete. Toda mulher tem o direito de falar. Toda a mulher tem o direito de ser. Acho que esse é o principal ponto do Rachão. Independente de como, onde e quando. A mulher tem que que estar lá. Esse é um dos motivos que fez o Rachão ser criado. Através do basquete, tentamos trazer a mulher para reconhecer o seu lugar na sociedade mesmo: o de ser protagonista. O que normalmente é tirado de nós. E mostramos para elas que podem ser o que quiserem. E o basquete é uma ferramenta para isso – Roberta.

São quatro mulheres negras à frente do Rachão, o que isso significa para o movimento?

Como a representatividade é importante. São quatro mulheres negras liderando. Estamos ocupando os espaços e ganhando voz - Roberta. 

Como se dá a escolha dos locais das quadras?

Existe uma demanda das meninas de sugerir e também existe um diálogo entre nós. Então, analisamos com está, às vezes tem os lugares de emergência. Às vezes tem alguma solicitação em que as meninas não são bem recebidas. Então, mudamos de lugar de acordo com as sugestões e do que conseguimos fazer dentro das nossas possibilidades - Aline.

Como é a ocupação das quadras públicas?

Não é fácil. O que a gente pode dizer é que nunca é fácil. Hoje, podemos determinar que quando chegamos no Ibirapuera, as pessoas já sabem o que é o Rachão, porque são cinco, quase seis anos de história. Quando a gente chega uniformizada, na linguagem de jogador, temos um ‘respeitinho’. No entanto, sempre tem alguém que diz que as mulheres não podem ocupar aquele espaço – Roberta.

Qual foi a pior situação durante uma ocupação?

Já enfrentamos vários afrontes, um deles eu protagonizei. As mulheres ocupavam metade de uma quadra no Ibirapuera, que tem cinco quadras de basquete. Todas elas ocupadas pelos homens. Estávamos em metade delas, e pedimos que a outra metade fosse cedida para que nós pudéssemos jogar na quadra inteira. E lá tinha um senhor que ameaçou chamar um advogado, alegando que a gente estava ocupando o espaço público, que era o direito dele estar lá e ia chamar a polícia. Argumentamos e falamos ‘se é seu direito, é nosso também’. Pedimos que ele analisasse que as outras quatro quadras eram ocupadas por homens. Não dava para deixar essa quadra só para meninas? Mas assim, ele demorou muito, ameaçava, usava palavras de baixo calão e ofendia todas as meninas que falavam com ele. Foi tão difícil que tivemos que montar uma equipe feminina de 3 x 3, e aí nosso time ganhou do time dele para ocuparmos a quadra. Quando ganhamos, aí pedimos para que ele se retirasse. O senhor ainda saiu reclamando, e chegou a chamar o vigia, alegando que não poderíamos fazer aquilo. Foi toda uma situação que a gente enfrenta constantemente. É sempre uma luta, principalmente em quadras que vamos pela primeira vez. Sempre ter que dialogar com os caras. Temos sempre uma voz educativa, explicando que as quadras nunca têm mulheres e elas precisam ocupar esses espaços – Roberta.

Qual é a projeção para o movimento depois da pandemia?

Eu acredito que vá aumentar (a procura). Todo mundo está com sede de basquete. Elas estão enlouquecidas para voltar a jogar. Acreditamos que o movimento será ainda mais numeroso. Acreditamos que elas irão ocupar mais espaços e quadras públicas e, com isso, o movimento cresce. Que elas entendam que o Rachão aconteça onde elas estiverem – Priscila.

A tendência é que o esporte de lazer e amador cresça muito após a pandemia. Porque as pessoas terão essa necessidade de buscar o esporte para sobressair às outras coisas. E o esporte de alto rendimento estará muito dificultado. Não estará aberto ao público, por exemplo, estará bem restrito. Então, acho que a tendência é aumentar a procura – Roberta.


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